Um estudo da Universidade de Toronto, no Canadá, sugere que pessoas com “sobrancelhas distintivas” têm uma maior probabilidade de demonstrar traços de uma personalidade narcisista, ou, pelo menos, uma maior probabilidade de ser entendidas pelos outros como tal. No contexto desta investigação, os cientistas descrevem um narcisista como alguém que exibe “uma tendência para ser egoísta, egocêntrico e vaidoso”.
Para chegar a esta conclusão, Miranda Giacomin, do departamento de psicologia da Universidade de Toronto, tirou fotografias a 39 estudantes (26 mulheres e 13 homens) com uma média de idades de 21 anos, pedindo-lhes para manter uma “expressão neutra”, de modo a não sugestionar as eventuais interpretações.
Depois, os estudantes preencheram um questionário psicológico que visava avaliar o nível de narcisismo de cada um. No questionário, os participantes tinham de responder se concordavam, ou não, com frases como “se eu mandasse, o mundo seria um local melhor” ou “é fácil para mim manipular as pessoas”. Numa fase posterior do estudo, as fotografias foram mostradas a voluntários, que tinham de classificar cada estudante numa escala compreendida entre 1 – “não é narcisista de todo” – e 8 – “é extremamente narcisista”.
Analisados os resultados, Giacomin constatou que os voluntários utilizavam as particularidades das sobrancelhas de cada participante observado para julgar o nível de narcisismo da pessoa. E, na grande maioria dos casos, através desse critério, especialmente tendo em conta o grau de espessura e a densidade de cabelo, conseguiram identificar os narcisistas com bastante clareza entre os 39 estudantes.
De modo a fundamentar as observações iniciais, os investigadores manipularam as fotografias e trocaram as sobrancelhas de vários estudantes entre si, tentando, desta forma, determinar se as perceções dos voluntários se mantinham. Ora, as conclusões parecem comprovar a teoria acima descrita, já que os participantes avaliaram os estudantes como sendo menos narcisistas quando estes tinham sobrancelhas diferentes das originais.
A questão coloca-se: porquê as sobrancelhas? Primeiro, “ainda que pouco estudadas, as sobrancelhas são possivelmente uma das partes mais expressivas do rosto, servindo várias funções sociais importantes”, e “contribuem para um vasto leque de expressões emocionais, como o medo, a raiva, a felicidade ou a surpresa”, como se pode ler no artigo, publicado no jornal académico Journal of Personality. Segundo, as sobrancelhas também influenciam uma série de processos sociais como o reconhecimento facial ou o nível de atratividade, daí os investigadores teorizarem que os narcisistas, que “ativamente desejam reconhecimento e admiração”, tenham a necessidade de manter esse atributo facial em bom estado.
Contudo, Gicomin e os seus colegas apontam algumas limitações à teoria proposta. Por exemplo, a recente tendência de usar as sobrancelhas quase como um acessório de moda, cortando-as ou aparando-as de uma certa forma, pode ter contribuído para alguma alteração dos resultados. No mesmo sentido, os cientistas notaram que a amostra de 39 estudantes era limitada e que, fora do ambiente controlado de um estudo científico, muitas pessoas têm em conta um largo conjunto de fatores para além da cara no que diz respeito à formulação de uma primeira impressão individual.