Emmanuel Macron pode ter muitos defeitos, mas conhece muito bem os seus compatriotas. Ele é o primeiro a saber que a “França do Não”, aquela que raramente está satisfeita e que parece estar sempre pronta a iniciar uma revolução, deve ser levada muito a sério. Afinal, este é o país que guilhotinou Luís XVI e que, a 4 de dezembro de 2018, o insultou e obrigou a fugir de Puy-en-Velay, para não ser agredido e linchado durante a crise dos Coletes Amarelos. “Estamos numa fase de realinhamento político. Neste novo mundo (…), ser um peixe capaz de nadar para a esquerda e para a direita é uma vantagem. (…) Se ele quiser ser bem-sucedido neste seu segundo quinquénio terá de mudar de métodos. Terá de pôr de lado o ‘monarca republicano’ que os franceses conhecem desde a sua tomada de posse, em 2017. Caso contrário, expõe-se, uma vez mais, a inconvenientes imediatos. Pela simples razão de que não vai beneficiar de nenhum estado de graça.” Eis a explicação dada pelo politólogo Vincent Martigny, ao L’Obs, para o Presidente reeleito no último domingo se apresentar agora como uma figura consensual e tolerante, que pretende unir todos os franceses. Há motivos óbvios e urgentes para a mudança de postura do governante liberal que é também líder de um movimento criado à sua imagem e que detém uma clara maioria no Parlamento, La République En Marche (LREM).
Em junho haverá eleições legislativas e nenhum dos seus adversários políticos pretende dar tréguas ao Chefe de Estado. Em particular os representantes da extrema-direita e da esquerda radical, que apostam neste sufrágio a duas voltas (nos dias 12 e 19) para uma desforra implacável. Nas presidenciais, Macron obteve uma vitória aparentemente categórica, com 58,5%, e mais 5,5 milhões de votos do que Marine Le Pen, a chefe de fila da União Nacional (UN). No entanto, só 38% dos eleitores inscritos votaram nele (a taxa de abstenção foi a mais baixa desde 1969) e, como se não bastasse, mais de três milhões de pessoas (8,6%) recorreram ao voto em branco ou nulo, como forma de protesto por não se reconhecerem em nenhum dos candidatos.
Marine Le Pen e a extrema-direita podem passar de 11 para mais de uma centena de deputados nas legislativas de junho