É a polémica mais recente do mundo da moda e da Internet: esta quinta-feira, o jornal Público noticiou que a designer de moda norte-americana Tory Burch tinha colocado à venda no seu site camisolas tradicionais da Póvoa de Varzim por 695 euros, nove a dez vezes mais do que o valor a que é vendida em Portugal (80 euros). Além disso, a designer não fez qualquer referência à sua verdadeira origem.
Pior ainda, a peça – uma sweater com motivos marítimos (remos, uma boia de sinalização de redes e um lampião usado pelos pescadores) e uma coroa da monarquia portuguesa – foi identificada como tendo sido inspirada na baja mexicana, apesar de estas referências terem desaparecido, entretanto, do site. O nome da camisola também foi alterado, de Baja Inspired Sweater para Sweater Tunic.
Os portugueses não gostaram e trataram imediatamente de invadir as redes sociais da designer de 54 anos, que tem como como consultora de design e embaixadora global a portuguesa Filipa de Abreu. “Devia ter vergonha na cara! A Camisola Poveira pertence à bela cidade da Póvoa de Varzim! É uma parte importante da sua história e cultura. Tente ser original e pare com isto”, escreveu um dos utilizadores do instagram na página oficial da designer.
Também a página de Facebook da Camisola Poveira manifestou-se contra a situação. “Não estamos contra a inspiração, achamos até saudável e bem-vindo tudo o que possa promover o nosso artesanato, a nossa história, a nossa terra. Aqui, nada disso aconteceu. Apenas cópia e omissão”, lê-se, numa publicação.
A Camisola Poveira tem mais de século e meio e está, há seis meses, em processo de certificação. Feita com lã branca de fio grosso da zona da Serra da Estrela, é, depois, decorada a ponto de cruz com lã de cor preta e vermelha, com vários motivos de inspiração minhota. De acordo com a autarquia, a história foi descoberta há mais de um mês por um poveiro que vive nos EUA e a empresa norte-americana foi alertada para a situação. Ao Público, Ricardo Silva, presidente da União de Freguesias da Póvoa de Varzim conta ter ficado “atónito” assim que soube do sucedido, tendo já contactado a marca por e-mail e protestado na página de Facebook da designer, não obtendo qualquer resposta até ao momento.
“Depois de confrontados com a nossa denúncia, resolveram apenas retirar a autoria e as afirmações de falsa inspiração, para apenas assumirem a usurpação cultural de uma das mais emblemáticas peças de artesanato português, que teve honras de selo postal na coleção Trajes Regionais 2007”, diz Ricardo Silva ao Público, referindo ainda que “uma coisa é utilizar motivos decorativos ou a estrutura da malha, outra é fazer uma cópia sem sequer assumir o nome da peça ‘camisola poveira’ de Portugal”.
Mas há mais semelhanças entre os produtos comercializados pela Tory Burch e os produtos famosos portugueses. É o caso da coleção de loiças de mesa da marca, muito semelhantes às loiças Bordallo Pinheiro tradicionais, conhecidas pelas suas folhas de couve em tons de verde, e recentemente também em tons de rosa.
Tory Burch publicou, entretanto, ao final da tarde, no Twitter, um pedido de desculpas aos portugueses. “Foi um erro não termos feito referência às bonitas e tradicionais camisolas de pescador tão representativas da cidade da Póvoa de Varzim”, lê-se no tweet, que acrescenta a intenção de corrigir “de imediato” o erro e “honrar” esta camisola “inspiradas nas tradições portuguesas.
(Artigo editado às 18h para incluir resposta de Tory Burch)