Os britânicos que ocultem viagens de férias para destinos como Portugal, procurando assim escapar ao cumprimento do período de isolamento a que estão obrigados no regresso ao Reino Unido, arriscam até dez anos de prisão. Anunciada no início da semana pelo ministro da Saúde, Matt Hancok, a decisão está já a ser duramente criticada, tanto pelos partidos da oposição como pelo setor turístico.
Mas não só. Esta quarta-feira, ergue-se mais uma voz a reprovar o anúncio feito pelo executivo de Boris Johnson. “Será que o Sr. Hancock pensa mesmo que não divulgar uma visita a Portugal é pior do que o elevado número de crimes violentos com armas de fogo ou crimes sexuais envolvendo menores, cuja pena máxima é de sete anos?”, escreveu Jonathan Sumption, antigo juiz do Supremo Tribunal britânico, num artigo publicado pelo diário britânico The Telegraph.
No mesmo texto, Sumption considera mesmo que o ministro perdeu a noção de realidade, depois de Hancock também ter afirmado que “os novos controlos de fronteiras, incluindo a quarentena obrigatória de dez dias em hotéis e testes obrigatórios triplos para todas as chegadas, podem durar até ao outono”. Para o ministro da Saúde, as medidas, que entram em vigor na próxima segunda-feira, são “as necessárias para combater as novas variantes do SARS CoV-2 vindas da África do Sul e do Brasil”.
“Os britânicos devem esperar uma vigilância muito apertada”, sublinhou ainda o secretário dos transportes, Grant Shapps, citado pela BBC, “e esta pena máxima reflete a gravidade do crime”. Ao programa Today, na rádio BBC, Shapps foi mesmo mais longe considerando que “as pessoas não deviam reservar férias, nem no Reino Unido nem no estrangeiro” e que era “demasiado cedo” para isso.
Mas, no mesmo programa, o ex-parlamentar Dominic Grieve, também conservador, como o governo de Boris Johnson, também ouvido no mesmo programa, fez questão de tal pena era “um erro”, “exagerada” e “totalmente desproporcionada. “Sugerir uma sentença de 10 anos para quem apresentar uma declaração falsa, num formulário, ao aterrar no aeroporto de Heathrow é, penso eu, um erro porque é exagerado, não vai acontecer”.
Já para a AITO (sigla inglesa para Associação de Operadores Turísticos Independentes, no Reino Unido) o que o governo está a tentar é “intimidar as pessoas”, o que, considera aquela entidade, “é muito para lá do razoável”.