A sonda Juno, que foi projetada para enfrentar os desafios de conhecer Júpiter, está em missão desde 2016. Equipada para resistir ao ambiente exterior do espaço, a sonda está a explorar a atmosfera e a mapear os campos magnéticos e gravitacionais de Júpiter, acompanhada pela JunoCam, uma câmara criada especificamente para gravar imagens do gigante gasoso. Mas a NASA, responsável pelo programa, não tem técnicos disponíveis para tratar toda a informação que está a ser enviada para a Terra, e decidiu recorrer a amadores.
“Não temos uma equipa especialista de ciência da imagem para a Juno, por isso, procurámos o público para nos auxiliar”, justificou Candice Hansen-Koharcheck, uma das investigadoras do projeto e responsável pela JunoCam,

A investigadora explicou à CNN que a comunidade de astronomia amadora ajuda a determinar quando e onde a JunoCam deve fotografar o planeta. Depois, quando as imagens são enviadas para a Terra, o público tem acesso aos dados em bruto e trabalha as imagens com o conhecimento que têm em edição de fotos. Esta tática tem resultado “em algumas das imagens mais impressionantes” já vistas de Júpiter, garante a investigadora. “Eu não sei o que faríamos sem eles” diz Hansen-Koharcheck. “Nos últimos dois anos, passámos a confiar neles como membros importantes da nossa equipa virtual.”
Um destes astrónomos amadores trabalha na própria NASA, mas num departamento completamente diferente: Kevin Gill, engenheiro informático do The Jet Propulsion Lab, um centro de pesquisa e desenvolvimento da NASA, na Califórnia, edita as imagens da JunoCam por “amor à ciência”. Começou a tratar imagens em 2014, com fotografias de Marte do Curiosity Rover e da câmera HiRISE. Agora ocupa os seus tempos livres a explorar Júpiter, com as imagens de Juno.
“A JunoCam é uma câmara grande angular, mas é equipada como uma câmara a preto e branco, numa escala de cinza”, explica. A câmara tem um sensor com filtros vermelhos, azuis e verdes, e outro, para identificação de metano, que captura imagens separadas em tons de cinza.
“À medida que a sonda gira, a JunoCam tira uma série de fotos até 58 graus de largura e 360 graus de comprimento”, acrescenta. “Juno completará o perijove – o ponto mais próximo de Júpiter na sua órbita – e começará a transmitir os dados para a Terra”.

Gill tem um programa de edição semi-automatizado, que limpa os píxeis ou poeira que pode ter atingido a lente, antes de remover a distorção geométrica; de seguida, une as imagens. Para obter uma a imagem a cores, transforma as fotografias a vermelho, verde e azul para a escala de cinza no software de edição de imagens “e, desde que todo o mapeamento esteja correto, elas sobrepõem-se perfeitamente”.
A JunoCam não pode ser totalmente calibrado para cores verdadeiras, diz Gill, por isso há uma parte criativa sobre a imagem final. “Eu tento manter a cor próxima, o que é mais agradável e mais revelador sobre o que está à superfície.”
Projetada para suportar pelo menos sete órbitas, a JunoCam ainda está operacional depois de 26 viagens a Júpiter, com a promessa de continuar. A missão já foi alargada uma vez e a equipa está a explorar a hipótese de estendê-la uma vez mais, diz Hansen-Koharcheck.
Mas existem ainda outras missões ambiciosas da NASA no horizonte, que também poderá vir a contar com a ajuda destes astrónomos amadores: a missão Mars 2020, um veículo espacial que será equipado com 23 câmaras, que estava previsto ser lançado em julho deste ano; a missão Europa Clipper, que investigará a lua gelada de Júpiter; e a mais ambiciosa, a missão Dragonfly que irá voar sobre a superfície da lua de Saturno, Titã.