As obras de Claude Monet, um dos mais célebres pintores impressionistas, foram criadas de de forma a que o cérebro interprete as cores de maneira diferente. Esta é a conclusão de um novo estudo realizado pelo Centro para a Ciência Visual da Universidade de Rochester, nos EUA, que analisou um grande número de pinturas da série Waterloo Bridge do artista francês, criada em 1901.
Neste conjunto de obras, pode ver-se a conhecida ponte de Waterloo, em Londres, a paisagem à volta e toda a atmosfera envolvente, a luz suave e a neblina.
Os investigadores acreditam que, nesta série de pinturas, Monet manipula a perceção visual do espectador e que isso não foi entendido pelos cientistas da época. Nas obras, explica a equipa, foi utilizado um conjunto de cores muito limitado mas a verdade é que todas elas parecem diferentes e únicas.
Os investigadores acreditam que a explicação para isso pode ter a ver com a forma como os olhos captam os comprimentos de onda da luz. Isto porque a retina é constituída por três tipos de cones, células do olho que têm a capacidade de reconhecer as cores: o primeiro responde à luz de comprimentos de onda longos, atingindo uma cor vermelha. Já o segundo responde à luz de comprimento de onda médio, chegando a uma cor verde. O último tipo responde mais a comprimentos de onda curtos, de cor azulada.
A informação, depois de ser processada pelas retinas, viaja para o córtex visual situado na parte de trás do cérebro, que a vai transmitir para “partes de nível mais alto do cérebro”, assim explicam os investigadores, como as que estão relacionadas com a memória, por exemplo.
O artista foi ainda mais longe, pintando cenas 3D numa superfície 2D. De acordo com a equipa, Monet engana o cérebro do espectador, utilizando, na pintura, certos elementos de luz, sombra e contraste para pintar a ilusão de uma ponte 3D.
Monet “engana” o cérebro de um espectador, descrevendo elementos de luz, sombra e contraste para pintar a “ilusão” de uma ponte 3D, disse a universidade.
“Até pode saber que é uma ilusão, mas o seu cérebro agrupa automaticamete as coisas e deixa-o a pensar que é uma cena tridimensional”, explica Duje Tadin, um dos investigadores do estudo.
Além disso, nesta série de quadros, o artista francês também manipula a luz, com o objetivo de “pregar uma partida” ao cérebro. Na verdade, a cor da ponte de Waterloo nunca se altera ao longo das diferentes pinturas, mas o espectador pensa que sim, como resultado da utilização de tons e intensidades diferentes.
Essa variação de tons modela a perceção visual de quem olha para as obras: uma tonalidade mais azulada parece luz solar direta, enquanto um tom mais avermelhado lembra um sol a por-se. Contudo, qualquer pessoa que veja as cores de uma forma normal e que olhe para este conjunto de obras observa que a ponte de tijolo é sempre cinzenta, seja qual for a hora do dia. Isto acontece porque o cérebro desenvolve truques que prevêem as propriedades reais dos objetos, apesar das diferents condições de iluminação.
Os cientistas afirmam que este estudo fornece uma visão sobre a complexidade do sistema visual, assim como sobre a complexidade do trabalho de Claude Monet.