Bem-vindos a Oymyakon, um dos lugares mais frios do planeta. Aqui, nesta localidade do leste da Sibéria, os termómetros registam habitualmente, em média, uns gélidos -50 graus e a temperatura mais baixa de que há registo foi de -71,2 graus, em 1924.
No Inverno, os cerca de mil habitantes de Oymyakon só têm direito a seis horas de luz por dia. O mês mais quente é o de julho e, segundo o El País, as temperaturas podem chegar a atingir os 34 graus. No entanto, a partir de outubro, começa a arrefecer e os termómetros a marcar os -15 e -20 graus, descendo de aí em diante.
Como é que se vive numa localidade tão fria como esta? Naturalmente, o dia-a-dia muda muito e o tempo gélido traz muitos inconvenientes.
Uma simples ida à casa de banho, por exemplo, não é tão fácil como se pensa. Porque os canos congelam, os habitantes constroem casotas de madeira no exterior, mesmo no meio do piso gelado, com buracos escavados na neve, que servem de casas de banho. O solo está tão congelado que, no caso de alguém morrer, são precisas muitas fogueiras para derreter o gelo, a fim de se conseguir cavar uma sepultura.
Quando as temperaturas estão abaixo dos -60 graus, não se pode respirar ao ar livre, a menos que se cubra a cara com alguma peça de roupa. Correr é uma atividade quase impossível nestas condições. Quando estão -49 graus, os pais deixam as crianças brincarem no exterior, na condição de só ficarem por lá no máximo 20 minutos. Quando está ainda mais frio, é aconselhável não estar ao ar livre, visto que, a -58 graus, qualquer parte da pele exposta congela muito rapidamente.
Neste vídeo, veja o que acontece quando é lançada água quente para o ar, num ambiente de -56 graus (minuto 25:45), e quando se estende roupa ao ar livre (28:10).
A alimentação também muda. Como o solo não permite nenhuma plantação de vegetais ou frutas – que, nas mercearias, são vendidos a preços muito caros –, a dieta dos habitantes de Oymyakon é fundamentalmente carnívora. O jornal espanhol diz que algumas das especialidades da zona incluem carne de veado, cavalo ou vitela e a revista Wired fala ainda de um prato de peixe cru raspado e de outro feito com cubos gelados de sangue de cavalo com macarrão. No entanto, há uma vantagem: não se precisam de preocupar em conservar a comida:o frio trata disso.
As casas, naturalmente, são muito quentes, para que consigam suportar o frio que se sente lá fora. Ao El País, um habitante da zona disse que, ao contrário do que se pensa, lá existe WiFi, televisão por satélite e telemóveis – que, na rua, têm obrigatoriamente de permanecer no bolso, sob o risco de ficarem congelados.
Mesmo com todas estas limitações, as pessoas continuam a querer viver ali. Surpreendido, Maxim Shemetov conta, num texto que escreve para a agência Reuters, que perguntou a um habitante como era possível levar uma vida normal naquelas condições. O homem de 40 anos respondeu-lhe que, um dia, quando era criança, os professores mandaram as crianças para casa porque a temperatura tinha chegado aos – 65 graus e que, para celebrar este furo, ele e os seus colegas foram jogar futebol para as ruas geladas. O fotógrafo não precisou de mais nenhuma explicação.