O senador John McCain, destacada figura do Partido Republicano e candidato presidencial em 2008, foi um dos muitos militantes de peso que nos últimos dois dias retiraram formalmente o apoio à candidatura de Donald Trump, após a divulgação de um vídeo de 2005 com comentários sexistas que estão a comprometer a sua campanha para a Casa Branca.
Segundo o The New York Times, já mais de 150 líderes republicanos que abanonaram Trump desde o anúncio da candidatura, em junho do ano passado, alguns com a promessa de votar em Hillary Clinton, outros pedindo para o candidato se retirar da corrida, algo que o magnata nova-iorquino já veio dizer estar fora de questão – Michael Moore já tinha avisado.
Entre os que desertaram da sua base de apoio inicial encontraram-se, além de John McCain, nomes como Mitt Romney, o candidato que enfrentou Barack Obama em 2012, Condoleezza Rice, secretária de Estado durante a presidência de George W. Bush (2005-2009), ou o ex-Governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, conhecido pelos filmes de ação em Hollywood.
“O comportamento de Donald Trump esta semana, concluído com a revelação dos seus vexatórios comentários sobre as mulheres e as suas gabarolices sobre assaltos sexuais, tornam impossível que continue a fornecer um apoio mesmo que condicional à sua candidatura”, salientou John McCain, acrescenando que nem ele nem a mulher vão votar em Trump.
É o pior momento da campanha para Donald Trump, em vésperas do segundo debate com Hillary Clinton, agendado para esta noite (já madrugada em Portugal; começa às 2h de segunda-feira). Até Melania Trump, a sua mulher, e Mike Pence, candidato a seu vice-presidente, se sentiram forçados a criticá-lo publicamente.
Trump começou o sábado com um pedido de desculpas sobre a linguagem utilizada no vídeo divulgado pelo The Washington Post, mas só gastou 40 segundos dos 90 segundos dessa declaração a defender-se (ver vídeo ao lado). Nos outros 50 passou ao ataque e o alvo é não só Bill Clinton, acusado de maltratar as mulheres, mas também a sua adversária democrata, Hillary Clinton, de quem diz ter feito de tudo para encobrir essas situações.
“Eu disse coisas idiotas, mas existe uma grande diferença entre as palavras e os atos de outras pessoas. Bill Clinton realmente maltratou as mulheres, e Hillary perseguiu, atacou, humilhou e intimidou as suas vítimas”, disse. “Falaremos disso nos próximos dias”, advertiu Trump, reforçando a promessa de levar o assunto para o debate deste domingo em St. Louis. “Bill Clinton disse-me coisas muito piores num campo de golfe”, lançara numa primeira reação ao vídeo.
O frente-a-frente, de 90 minutos, será moderado por dois jornalistas – Anderson Cooper (um dos repórteres mais mediáticos do canal de informação CNN) e Martha Raddatz (correspondente internacional da ABC News) – e vai incluir perguntas de cidadãos que vão estar assistir na plateia.
A divulgação do vídeo comprometedor para Trump surgiu numa altura em que a semana já estava a ser particularmente difícil para o candidato republicano, na sequência de uma investigação jornalística do The New York Times que dava conta de que o empresário teria evitado, de forma legal, pagar impostos durante pelo menos 18 anos ao declarar perdas de 916 milhões de dólares (cerca de 814 milhões de euros) em 1995.
Na opinião de analistas e dos seus próprios aliados, Trump está obrigado a impor-se neste segundo debate se quer manter as hipóteses de ser eleito para a Casa Branca nas eleições de 8 de novembro. O primeiro foi seguido por 84 milhões de telespetadores norte-americanos, o mais visto de sempre.