Foram 90 minutos de golpes no adversário, alguns mais baixos do que outros, sempre em ritmo acelerado. Mas, no meio de tanto ataque e contra-ataque – só possíveis face à passividade do ‘árbitro’, o jornalista da NBC Lester Holt, que ‘deixou jogar’ -, importa reter o que de mais interessante se passou no primeiro debate televisivo entre Hillary Clinton e Donald Trump. A VISÃO dá uma ajuda com estes oito tópicos de leitura rápida:
1 – Ela. Começou por referir-se à opositora como sra. Secretária de Estado (cargo que ocupou durante anos), mas depressa trocou a deferência por três letrinhas. She, she, she – ou ela, ela, ela. Foi assim que Donald Trump tratou Hillary Clinton ao longo de quase todo o debate. Ela – perdão, Hillary – chamou-o quase sempre pelo primeiro nome, Donald.
2 – Mentiras. Vários jornais, do The New York Times ao The Guardian, analisaram à lupa cada declaração dos dois candidatos, e apanharam-nos em falso. Num desses casos, Hillary acusou Trump de ter apoiado a invasão do Iraque em 2003, ao que o candidato republicano retorquiu: “Errado.” Na verdade, está certo. No programa de rádio de Howard Stern, quando lhe foi perguntado se os Estados Unidos deveriam atacar Saddam Hussein, respondeu: “Sim, creio que sim. Quem me dera que da primeira vez tivesse sido feito corretamente.”
3 – Stamina. Os analistas atribuem a vitória no debate à antiga primeira dama. Uma das suas intervenções mais fortes aconteceu após o moderador ter desafiado Donald Trump a esclarecer o que quis dizer quando afirmou que Hillary não tinha uma “aparência presidencial” – o que fez a candidata democrata desmanchar-se a rir. “Não tem a aparência nem a energia (stamina). Eu disse energia. Para se ser presidente deste país é preciso uma energia tremenda”, carregou Trump, ignorando a tentativa do moderador para interromper: “Espere um minuto. Fez-me uma pergunta, não fez?”. E reforçou a sua ideia, antes de Hillary tomar a palavra: “Assim que ele viajar por 112 países e negociar um acordo de paz, um cessar-fogo, a libertação de dissidentes, a criação de novas oportunidades em nações pelo mundo fora, ou assim que ele passar 11 horas a testemunhar perante o congresso, ele pode falar comigo sobre energia.”
4 – Fungar. Trump passou o debate a fungar e o barulhinho de fundo tornou-se tão presente que está hoje em alta rotação no Twitter. “Precisas de um lenço, Donald?”, pergunta o The Huffington Post.
5 – Tiro no pé. Perante a insinuação de ter fugido ao fisco, Trump nem se deu ao trabalho de negar. Respondeu assim: “Isso faz de mim um tipo esperto.” O que faz de todos os que pagam impostos… burros?
6 – Humor não correspondido. A certa altura, Hillary troça do adversário, divertida: “Tenho a sensação que ao fim da noite vou ser culpada de tudo o que alguma vez aconteceu.” Trump não se conteve: “Porque não?”.
7 – Moeda mexicana em alta. É conhecida a intenção de Donald Trump de construir um muro na fronteira com o México, além de outras medidas para combater a emigração e o contrabando. Mas a sul da fronteira também se receia as consequências económicas que o país pode sofrer, a nível dos acordos comerciais, no caso de Trump se tornar presidente dos EUA. Foi por isso que o peso mexicano, próximo do seu valor mínimo histórico antes do debate, disparou face ao dólar ainda durante o embate, refletindo o sentimento de que o desempenho de Hillary superou o do rival.
8 – KO nas interrupções. O site de notícias Vox contou as vezes que os candidatos se interromperam. Trump ganhou por KO, ao cortar a palavra a Hillary em 51 ocasiões, enquanto o contrário aconteceu 17 vezes.