” (…) proíbo que me tragam alimentos ou água, pelo que anuncio estar em greve de fome. E caso me decida, nos próximos dias, posso ainda dizer que optarei pelo suicídio”. Acusado com mais 16 cidadãos angolanos de ‘atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o presidente José Eduardo dos Santos, o jornalista Sedrick de Carvalho, 25 anos, um dos mais novos do grupo, denuncia também a tortura a que o grupo é submetido, afirmado que tudo ocorre sob o olhar condescendente da Justiça angolana.
A uma semana de somar seis meses de prisão, Sedrick de Carvalho escreve uma carta aberta à Sociedade Angolana, aos Serviços Prisionais, ao Tribunal Provincial de Luanda, aos Orgãos de Imprensa e à sua Família, citada pelo site Rede Angola, denunciando todas as atrocidades a que o grupo tem sido submetido:
“Pela permanente tentativa de nos levarem a contrair desequilíbrios mentais, com práticas de torturas milimetricamente orientadas e executadas rigorosamente pelos mesmos que têm a missão legal e humana de cuidar e atestar a nossa sanidade mental; (…) Pela palhaçada que se verifica em pleno julgamento da ditadura contra a democracia, onde magistrados escondem o rosto mas não a estupidez, onde aprovam e aplaudem as agressões físicas que acontecem no tribunal, ou ainda onde se reconhece que não leram, durante os cinco meses, os livros que para a ditadura é proibido.”
Sem medo das palavras, Sedrick insiste que o julgamento não passa de “uma palhaçada”, mostrando-se solidário contra as forças de segurnaça, por as considerar “prisioneiras de um regime que pensa de forma corrupta e vive do terrorismo social e político”. É tudo isto que, segue o ativista, justifica a sua recusa em sair da cela em que se encontra e em receber qualquer visita (pedindo desde logo desculpas à sua família). Assumindo-se em paralisação completa, Sedrick diz ponderar o suicídio como uma opção.
Esta é já a 5ª semana do julgamento dos ativistas angolanos, depois de muitas irregularidades do processo, tal como o excesso de prisão preventiva, a negação do processo aos advogados e o impedimento de visitas entre outras – e que começou a 16 de novembro, cinco meses depois das primeiras detenções, em junho passado.
O caso, que tem recebido atenção mundial e foi até analisado no Parlamento Europeu, além de criticado por diferentes ONG, contou já com 36 dias de greve de fome de Luaty Beirão, o tal filho do regime que, a partir do estrangeiro, passou a ver a sua Angola natal com olhos de crítica.