Coesão social: tripla ‘joint-venture’
«Defendo uma tripla joint-venture entre empresários, sindicatos e organizações não governamentais (ONG). O Estado tem de fazer boas leis, em colaboração com o Parlamento, e garantir apoio à concertação social. Não tem que se meter na actividade económica, salvo se for para aceitar riscos que nenhum empresário é capaz de assumir.»
Sindicatos
«Devem defender os interesses dos trabalhadores, para que não andem empresários e trabalhadores a medir forças. Os empresários têm muita força, mas quem tem mesmo força são os trabalhadores.»
O futuro dos sindicatos
«Apoiam-se nos funcionários públicos e, para sobreviverem, querem manter o emprego público. Defendem os funcionários públicos para além do razoável e não querem privatizações. O privado, lentamente, vai ser antisindicato. Terão que se reformular se não quiserem desaparecer lentamente. Não podem continuar a defender posições contra a evolução da sociedade. Se o povo ficar mais culto, não precisa destes sindicatos. E há ainda os funcionários sindicais, pessoas que estão agarradas áqueles lugares como se fossem funcionários públicos.»
ONG
«Têm de fiscalizar os processos e não deixar acontecer coisas ambientalmente incorrectas. Elas têm a confiança da população. Algumas vezes merecida, outras vezes não, mas têm. Os empresários e os políticos não são considerados pessoas sérias, pelo que não contam com a confiança da sociedade civil.»
Empresários
«Têm o poder de fazer acontecer. Mas para se ter uma sociedade coesa, os trabalhadores têm de ser bem tratados, não se podem explorar.»
Novo Aeroporto de Lisboa
«O aeroporto de Lisboa pode ser modular e construído devagar, mas tem de ser um aeroporto. Não pode ser um investimento de ostentação. Um aeroporto é tecnologia de controlo aéreo e pistas.»
Direitos adquiridos
«Se toda a gente tiver direitos adquiridos ficamos todos sem patrão, sem empresários, e depois temos direitos adquiridos relativos a uma coisa que já não existe. O único direito adquirido dos trabalhadores tem a ver com o Estado: na saúde, nas leis e na educação. Um trabalhador hoje, se não estiver contaminado pela ortodoxia, deve ter mobilidade geográfica e sectorial. Mesmo dentro da empresa. Quem não fizer isto vai definhar.»
Obama
«Ele anda numa guerra de cortar salários aos que ganham astronomicamente. Mas não tem grandes hipóteses, porque o regime político americano é de total liberdade. Está a estudar a criação de uma tributação especial que limpe o ordenado a partir de um certo valor. Levanta-se aqui um problema: a partir de determinado momento, estão a trabalhar para o boneco e deixam de o fazer. E há cada vez mais pessoas a escolher residências mais favoráveis na tributação. O Luxemburgo farta-se de ganhar dinheiro.»
Fim dos ‘offshores’
«Há offshores pecaminosos e outros legalizados que dão eficiência ao sistema. É preciso estudar o impacto de uma decisão dessas. O investimento pode fugir para outro sítio. Os governos têm muito medo, porque, depois, perdem o emprego. No mínimo, os países da Europa deviam harmonizar a tributação. Mas a única coisa que se tem conseguido é mais exigência de informação e maior colaboração para evitar operações pecaminosas.»
Regionalização
«Fui contra, porque aquilo estava desenhado para criar mais cargos políticos e burocratas. Mas um dos meus melhores amigos, Valente de Oliveira, deu-me cabo da cabeça. Estou a mudar de opinião. Antes disso, porém, tem de ficar garantida a competência técnica [dos eleitos]. Só quando houver um sistema de fiscalização efectiva defenderei a regionalização. Podia ser interessante regionalizar a educação.»
Porto
«Está a definhar. Vê-se. Está a perder habitantes. Tinha muito indústria, agora não tem nenhuma. Perdeu receitas e ficou incapaz de reagir. Não tem feito nada para se especializar em novas actividades: ciência, saúde, cultura, investigação. Tem de ser por aí.»
Associações patronais
«São muito burocráticas. Não há nenhum empresário a sério que se reveja nas associações. A confederação criada agora nem se sabe muito bem o que vai ser, não têm saído dali grandes contributos. Nas discussões de concertação, salariais e outras, representa o conjunto dos empresários portugueses, mas sem poderes expressamente consignados. É o melhor que há e o Governo aceita.»
(Entrevista publicada na VISÃO em 28 de janeiro de 2010)