Gabriel Zucman, professor académico na Universidade de Berkeley é, a par de Thomas Piketty, um dos economistas franceses da nova geração mais reputados internacionalmente. Nasceu em 1986 (sim, só tem 30 anos) mas a sua obra a “A Riqueza Oculta das Nações” (Temas e Debates, 2014) fez furor, colocando-o como uma referência mundial nos estudos sobre evasão fiscal e fuga ao fisco. Hoje, Zucman revela na revista francesa L’Obs em primeira mão as conclusões do seu novo estudo: a riqueza em offshores representa 8,6 biliões de dólares, está em níveis record e conduz a cada vez maiores desigualdades sociais.
Mas o curioso deste estudo são os dados relativos ao nosso país. Segundo as suas contas relevadas naquela revista, Portugal é o campeão da evasão fiscal na Europa, com 37,1% da riqueza em paraísos fiscais. A Grécia está em segundo lugar, com 25,8% do PIB, a Irlanda com 19,5% e a França 18,1%. Alemanha e Reino Unido apresentam valores de, respetivamente, 15,5% e 17,1%.
Sublinha Zucman que os países onde a evasão fiscal é maior são aqueles com economias mais frágeis. “Se é mais fácil pagar menos impostos quando se é muito rico, isso cimenta as desigualdades, já que as pessoas que são muito ricas se torna ainda mais: investem as suas riquezas com taxas de rendimento elevadas e pagam pouco ou nada de impostos desses rendimentos”, sublinha o economista.
Zucman afirma que metade da riqueza em offshores está na Europa (27% na Suíça e 19,8% noutras regiões europeias, como o Luxemburgo, a Ilha de Man, Bélgica, Áustria e Jersey ou mesmo Inglaterra). Zucman tem uma definição abrangente para evasão fiscal: redução dos impostos através da colocação do património noutro país. Como paraíso fiscal, considera aquelas regiões onde a taxa fiscal é pequena ou nula e a opacidade financeira é elevada. (Veja aqui um mapa interativo com os 20 mais importantes paraísos fiscais)
Conclui este especialista que a evasão fiscal diz respeito a poucos, mas que está generalizada nas cúpulas. Quanto mais ricos, mais fogem. “Quando se olha para a categoria dos 0,01% dos mais ricos do planeta, com uma fortuna superior a 50 milhões de dólares, há uma probabilidade próxima de 70% de terem uma conta num paraíso fiscal. E só estou a falar de dinheiro não declarado”, explica em entrevista. A probabilidade de ter riquezas nestes paraísos diminui muito drasticamente à medida que se desce na escala de riqueza: é de 20% para uma fortuna de 10 milhões de dólares e de 1% para quem tem “apenas” 2 milhões.
Como se explica este facto? Há duas explicações possíveis. “Primeira possibilidade: a riqueza extrema afeta a moralidade. Muito dinheiro corrompe o espírito. Segunda possibilidade: são estas pessoas que não têm um respeito tão grande pelas leis, e nomeadamente pelas fiscais, que se tornam as mais ricas. Não sei qual das duas será a causa. É um debate central das ciências sociais ao qual não sei responder. Mas os números mostram que há um fenómeno muito forte”, assegura.