Foi a fugir a grande velocidade, tal e qual fez, vezes sem conta, na final a quatro da Liga das Nações, que Nuno Mendes deu o primeiro passo decisivo para o arranque da sua carreira de futebolista. O próprio contou, numa entrevista à revista francesa Onze, o episódio caricato que acabou com ele a ingressar nas escolas de formação do Sporting. Nuno já era craque no FC Despertar, de Casal de Cambra, em Sintra, e tinha os olheiros dos grandes clubes portugueses em cima dele. O que não desconfiava era que naquela tarde em que regressava a casa da escola, o estranho que ele julgava que o seguia lhe ia mudar a vida. Assustado, o miúdo de apenas 9 anos fugiu a sete pés até casa e, quando o homem lhe bateu à porta, recebeu-o de faca da cozinha em punho. Afinal, o suposto assaltante era apenas um olheiro do Sporting que se adiantou à concorrência e estava ali para o levar para as escolinhas de Alcochete. A família, modesta e sabedora da fraca apetência do pequeno Nuno para os estudos, não hesitou, abrindo portas a uma carreira meteórica, que registou, nas últimas semanas, dias de glória absoluta, vividos no espaço de uma semana, no mesmo Allianz Arena de Munique onde se sagrou campeão europeu pelo Paris Saint-Germain e vencedor da Liga das Nações pela Seleção Nacional, em dois jogos absolutamente extraordinários que lhe garantiram a eleição como melhor jogador da competição.

Tendo ingressado no Sporting logo com nove anos de idade, em 2012, o esguio sintrense com metro e oitenta de altura, passou por todos os escalões da formação dos leões e teve a sorte de, no seu primeiro ano de sénior, em 2020, encontrar como treinador principal Rúben Amorim, treinador que nunca teve medo de apostar nos jovens talentos. Agarrando a titularidade após a venda do argentino Acuña ao Sevilha, Nuno Mendes foi um dos obreiros do título de campeão nacional que teimava em fugir ao Sporting. E não foi preciso esperar mais de um ano para que o seu talento fosse notado lá fora, tendo o jovem defesa esquerdo rumado, a 31 de agosto de 2021, ao Paris Saint-Germain, onde rapidamente se tornou titular habitual e jogador determinante. Nas quatro temporadas que já leva ao serviço do milionário clube da Cidade Luz, Nuno já foi quatro vezes campeão nacional, venceu duas taças de França, uma Supertaça e, no passado dia 31 de maio, ajudou o clube a vencer, pela primeira vez na sua história, a Liga dos Campeões. Num jogo em que ele e os conterrâneos Vitinha, João Neves e Gonçalo Ramos se empenharam para levar de vencida o Inter de Milão por cinco golos sem resposta, no Allianz Arena, de Munique. Um autêntico salão de festas, ao qual todos eles regressaram na quarta-feira, 4, e no domingo, 8, para ajudar Portugal a sagrar-se, pela segunda vez, vencedor da Liga das Nações.