Um destes bons princípios traduz-se na diversificação dos investimentos.
Perante o desafio que apresentei no início, de seleccionar uma classe de activos, a opção que considero acertada seria a de procurar construir um “cabaz de activos” bem diversificado, evitando a concentração excessiva em apenas uma mercadoria ou tipo de mercadorias. Aplicado ao investimento em mercadorias, o princípio da diversificação permite-nos beneficiar do potencial de valorização de diversos tipos de mercadorias – energéticas, agrícolas, metais base, metais preciosos, etc. -, limitando o risco específico de cada uma delas.
Nesta lógica de diversificação dos investimentos em mercadorias, gostaria hoje de destacar uma mercadoria ainda relativamente pouco conhecida, mas que ao longo do passado recente vem assumindo uma importância crescente, em particular nos sectores automóvel e da tecnologia de consumo: o Lítio.
Espera-se que o lítio assuma um papel preponderante enquanto fonte de armazenamento de energia. Trata-se de um dos metais mais leves, podendo armazenar três vezes mais energia do que os materiais concorrentes. As baterias de lítio podem ser carregadas e descarregadas centenas de ciclos, sem perda substancial da sua capacidade e são ambientalmente mais inofensivas quando comparadas com as alternativas construídas à base de níquel ou chumbo e ácido. As baterias de iões de lítio foram pioneiras no armazenamento de energia para dispositivos electrónicos portáteis na década de 90 e presentemente equipam 90% dos computadores portáteis e mais de 60% dos telemóveis. Cerca de 25% da procura desta matéria-prima destina-se assim ao fabrico de baterias.
Mais importante ainda: as baterias de lítio poderão afigurar-se como uma solução para ultrapassar as barreiras à adopção de fontes de energia renováveis, como a solar ou eólica. Esta barreira resulta da dificuldade de armazenar de forma eficiente uma energia que é gerada de forma intermitente, descontínua. De acordo com desenvolvimentos recentes na tecnologia, o lítio poderá constituir uma alternativa eficiente para o armazenamento destas fontes de energia “verde”. Estima-se que em 2020, mais de 40% da procura desta matéria-prima tenha como destino o desenvolvimento de dispositivos de armazenamento de energia, nomeadamente para o sector automóvel.
Os automóveis com baterias de lítio estão a liderar a revolução tecnológica limpa, enquanto alternativa mais viável para abastecer os automóveis do futuro. Estudos efectuados estimam que em 2020, 26% dos carros novos vendidos serão eléctricos. Warren Buffet, talvez o mais bem sucedido investidor de todos os tempos, foi ainda mais longe nesta previsão, afirmando que dentro de 20 anos todos os automóveis que circularão nas estradas serão eléctricos.
Defendi aqui recentemente, que o século XXI será o século dos mercados emergentes, pelo rebalanceamento do crescimento económico mundial, através de uma multiplicidade de motores de crescimento, que dará aos países em estados de desenvolvimento menos maduros (mercados emergentes) uma crescente relevância, consequência de um desenvolvimento da classe média nestes países, de uma balança comercial favorável e de um aumento dos preços das matérias-primas. Este factor, o do aumento dos preços das mercadorias, afigura-se-me como uma realidade praticamente incontornável. Por princípio e até por estilo pessoal, procuro afastar as verdades absolutas do meu discurso. Assim, quando digo “praticamente incontornável” estou a medir com precisão cada uma das minhas palavras.
Os mercados financeiros estão muito longe de serem uma ciência exacta.
Keynes dizia que os mercados podem permanecer irracionais por um período de tempo muito superior àquele em que nos conseguimos manter solventes.
Todos os “bull markets” (mercado com tendência de subida de preços) atravessam períodos de estagnação e até mesmo correcção (desvalorização de preços). Antecipo que existirão pausas e até retrocessos neste caminho. Porém, este “bull market” nas commodities em que presentemente já nos encontramos será, na minha opinião, estrutural nos próximos anos, muito simplesmente porque o desequilíbrio já verificado entre Oferta e Procura está para a generalidade das mercadorias, fora de controlo.