Podia ter sido um salto superior a 18 metros, mas só contaram os 17m84cm medidos entre a tábua de chamada e o local onde, na caixa de areia, ficou a primeira marcação do corpo de Pedro Pablo Pichardo. No segundo ensaio, o saltador português de origem cubana, apesar de ter voado como mais ninguém durante a competição, foi traído por um erro na corrida: saltou 19 centímetros antes da tábua de saída e, dessa forma, o seu salto acabou por ficar 2 centímetros mais curto do que o protagonizado, logo no primeiro ensaio, pelo espanhol Jordan Díaz, que fez os 17m86cm que, no fim, lhe valeram a medalha de ouro.
Quando se comparam os dois melhores saltos desta final do triplo salto, percebe-se como a diferença entre Pedro Pichardo e Jordan Díaz é absolutamernte milimétrica. O português correu a 37 km/hora e o espanhol a 38km/hora. Depois, quando se decompõem as distâncias de cada um dos segmentos do triplo, encontram-se também valores muito semelhantes: 6,59m, 5,23m, 6,02 no caso de Pichardo e 6,44m, 5,33m e 6,09m para Díaz.
Ou seja: Pichardo voou mais no primeiro segmento (conhecido como hop) e Díaz foi mais forte nos dois últimos (step e jump).
A diferença principal, no entanto, foi na tábua de chamada, o local onde se começa, verdadeiramente, a contar a distância que interessa para o resultado final: Pichardo, no seu melhor ensaio, ficou a 19 centímetros da tábua e Díaz a apenas 5,3 centímetros. Contas feitas, se cada um tivesse realizado chamadas perfeitas, o português teria feito um salto de 18m03cm, enquanto o espanhol se teria ficado pelos 17m91cm.
É por este tipo de pormenores que os Jogos Olímpicos são a competição mais exigente e complexa do mundo. Com a agravante de, ainda por cima, qualquer erro ou distração que se cometa ter de esperar quatro anos para poder ser emendado. Por ter consciência disso, Pichardo não escondeu a desilusão e, embora ainda tenha chegado a pegar na bandeira de Portugal, nem sequer participou na tradicional volta de honra, ao lado de Juan Díaz (ouro) e do italiano Andy Díaz (bronze) – todos nascidos em Cuba.
“Hoje infelizmente estava a cometer um erro na corrida e não consegui acertar na tábua”, reconheceu Pedro Pichardo, na entrevista rápida à RTP, ainda no estádio, mostrando-se assumidamente triste por não ter conseguido revalidar o título olímpico.
Mesmo assim, Pichardo entrou para um lugar cimeiro na história do Olimpo português, aos 31 anos, ao igualar o mítico Carlos Lopes, o único que, até agora, tinha coleccionado uma medalha de ouro e outra de prata em Jogos Olímpicos.