“O Sporting morreu hoje, o futebol morreu hoje”, diz um dos jogadores do Sporting, em pleno balneário do centro de treinos do clube, em Alcochete, num dos vídeos divulgados após o ataque de cerca de 50 adeptos à equipa, aos treinadores e staff de apoio. Nunca se tinha visto nada assim: simpatizantes do próprio clube, encapuzados, a invadirem as instalações desportivas para agredir fisicamente uma equipa de futebol, com ferros, cintos, cabeçadas, socos e pontapés – e, de passagem, pegar fogo ao interior. Entraram a correr, saíram a andar. 23 foram já detidos pela GNR, que chegou ao local 15 minutos depois de ser chamada pela segurança privada da Academia de Alcochete. Alguns levavam símbolos da Juve Leo e foram identificados como adeptos afetos à claque mais antiga em Portugal – que oficialmente, em comunicado, se demarca e condena os acontecimentos.
Nunca se tinha visto nada assim, mas existem na história recente do futebol português vários episódios de intervenções musculadas ou violentas das claques contra jogadores, treinadores e dirigentes do próprio clube. Eis alguns exemplos:
Invasão veta contratação de Mourinho
Em dezembro do ano 2000, após a derrota por 3-0 frente ao Benfica de José Mourinho, Augusto Inácio foi demitido do Sporting. Para o seu lugar estava contratado o técnico do clube rival, mas a Juve Leo invadiu a sala de imprensa do antigo estádio de Alvalade, quando era anunciada a saída do treinador campeão na época anterior, e vetou a chegada de Mourinho a Alvalade. “Nunca”, vincaram os elementos da claque, logrando os seus intentos.
Espera e very-light lançado ao carro de Co Adrianse
O autocarro do FC Porto regressara ao centro de treinos, em Gaia, depois de um empate na visita ao Rio Ave, em janeiro de 2006. À saída do local, já no seu carro particular, Co Adriaanse foi surpreendido por uma emboscada alguns adeptos, que lançaram um very-light e pedras contra o veículo, antes do técnico holandês se pôr em fuga. O clube cortou relações com a claque dos Super Dragões e obrigou à expulsão de alguns elementos.
Paulo Assunção ameaçado com tiro
Em 2008, Paulo Assunção deixou o FC Porto em final de contrato, a custo zero, rumo ao Atlético de Madrid. O processo de renovação com os dragões arrastou-se e, a dado passo, o médio brasileiro tomou a decisão de sair. O motivo? À saída do centro de treinos do Olival, cinco adeptos ameaçaram-no com um tiro no joelho, contou mais tarde o jogador, em entrevista à RTP.
No Name Boys barrados no parque de estacionamento
Um grupo de cerca de 30 adeptos dos No Name Boys forçou a entrada no centro de estágio do Seixal, em novembro de 2015, mas os seguranças, que requisitaram apoio policial, conseguiram conter a investida, mantendo-os afastados da equipa de futebol. O episódio aconteceu na sequência da eliminação da Taça de Portugal, perante o Sporting, naquela que já era a terceira derrota da época em dérbis.
Juve Leo exige explicações em Alcochete
Um comitiva de 30 elementos da Juventude Leonina deslocou-se à Academia de Alcochete, em dezembro de 2016, para mostrar o seu desagrado face aos últimos resultados do Sporting. A gota de água tinha sido a derrota caseira frente ao SC Braga, que fez o clube cair para o quarto lugar. Os adeptos exigiam explicações ao presidente Bruno de Carvalho, ao treinador Jorge Jesus e aos jogadores e foram autorizados a entrar. Quase quatro horas mais tarde, saíram tranquilamente com renovada esperança na conquista do título, como deu conta o líder da claque, Nuno Mendes.
Tochas lançadas sobre autocarro do Benfica
Na sequência de uma derrota em Setúbal, em janeiro de 2017, cerca de 50 adeptos do Benfica rodearam o autocarro da equipa, à chegada ao centro de treinos do Seixal, e além de baterem no veículo lançaram tochas na sua direção.
Agressões em Guimarães
Em janeiro passado, três dezenas de adeptos invadiram o complexo de treinos do Vitória de Guimarães e, depois de uma troca acintosa de palavras em pleno relvado, agrediram alguns jogadores. A equipa estava sem ganhar há seis jogos.