Já era considerado há muito dos mais prestigiados escritores de língua portuguesa da atualidade e, na semana passada, tornou-se o primeiro a vencer o Prémio PEN/Nabokov de Literatura Internacional. Mais um galardão e um degrau numa carreira que muitos acreditam poderá acabar por levar o romancista moçambicano ao Nobel da Literatura. Esta mais recente distinção surge poucos meses depois de, em 2024, ter ganho o Prémio da Feira Internacional do Livro (FIL) de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara, México, mais um de uma longa lista de outros galardões que preenchem a sua carreira, dos quais se devem destacar o Prémio Eduardo Lourenço (2012), Prémio Camões (2013) ou o Neustadt International Prize for Literature (2014), considerado por muitos o “nobel norte-americano”.
“Posição singular”
Para o júri do PEN America, o trabalho de Mia Couto é um testemunho da dramática história da sua pátria, “bem como dos enigmas da identidade e da existência”, e merece a distinção “pelo conjunto da sua obra”, lembrando que o escritor moçambicano “é admirado por romances como Terra Sonâmbula (1992) e, mais recentemente, a trilogia As Areias do Imperador (2015, 2016 e 2018), selecionada para o Prémio Booker Internacional” e, como tal, ocupa “uma posição singular no panorama das literaturas africana e mundial”.
O Prémio PEN/Nabokov de Literatura Internacional, no valor de 50 mil dólares (cerca de 45 mil euros), é concedido anualmente pelo PEN America, em colaboração com a Fundação Literária Vladimir Nabokov, a um autor vivo cujo corpo de trabalho, escrito ou traduzido para inglês, representa o mais alto nível de realização em ficção, não ficção, poesia e/ou drama, segundo informação do “site” oficial do galardão. O prémio celebra autores cuja obra demonstra “originalidade duradoura e artesanato consumado”, evocando a versatilidade e o compromisso com a literatura, características da escrita de Vladimir Nabokov, acrescenta. Fundado em 2016, este prémio distinguiu anteriormente os escritores Maryse Conde, Vinod Kumar Shukla, Ngũgĩ wa Thiong’o, Anne Carson, M. NourbeSe Philip, Sandra Cisneros, Edna O’Brien e Adonis.
Primeiro a poesia
António Emílio Leite Couto nasceu na Beira, em Moçambique, a 5 de julho de 1955. Trabalhou como jornalista e professor, e atualmente é biólogo e escritor. Nos últimos anos, foi cronista da VISÃO. Com uma carreira na literatura que se prolonga há já mais de 40 anos, começou pela poesia (as primeiras foram publicadas, tinha ele 14 anos, no jornal Notícias da Beira) e pelos contos, reuniu em livro várias das suas crónicas, mas foi como romancista que mais se destacou. Terra Sonâmbula, de 1992, foi o seu romance de estreia, tendo ganho o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos em 1995, e considerado pelo júri na Feira Internacional do Zimbabwe um dos doze melhores livros africanos do século XX. Seguiram-se outros sucessos, como Jesusalém, O Último Voo do Flamingo, Vozes Anoitecidas, Estórias Abensonhadas, A Varanda do Frangipani e A Confissão da Leoa, entre muitos outros, que, atualmente, se encontram traduzidos em mais de 30 línguas.