Setecentas sessões, mais de 100 projetos artísticos, espetáculos, performances, projetos participativos com diferentes estruturas em vários locais, atividades com escolas, conferências, debates e programas como Cenários Futuros (que arranca na próxima semana, a 15, em Loulé) constituíram a Odisseia Nacional em 2023. Um ano em que o Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII), de portas fechadas para a realização de obras de recuperação, abriu para os palcos do País, de norte a sul, passando pelas ilhas, envolvendo cerca de 90 municípios. E a Odisseia no palco continua.
Pedro Penim, diretor artístico do TNDMII, adianta, precisamente, que a Odisseia Nacional e o cíclo Abril Abriu, que celebra os 50 anos da revolução de 1974, são “os dois principais braços” da programação do D. Maria II para 2024.
Entre março e julho, o D. Maria vai regressar a Lisboa e “ampliar o âmbito da sua atuação”, com a apresentação de 17 projetos artísticos em diferentes palcos e espaços não convencionais, numa programação “diversa e multidisciplinar, inspirada nas conquistas de Abril e que sublinha o legado histórico, cultural, político, social e, claramente, artístico da revolução”, como afirma Penim. “Esta ideia maravilhosa que está no poema do José Carlos Ary dos Santos, as portas que abril abriu. “É extraordinário também como se pensa que ganhos o teatro conseguiu conquistar com a revolução”, salientou na apresentação da programação. “É uma reflexão que está, de alguma forma, por fazer e obviamente que o TNDMII deve se aliar a esta ideia de que a revolução tem um ganho significativo e estas portas que abril abriu são também as portas que abriram os teatros e as formas teatrais”.
Rui Catarino, presidente do conselho de administração do TNDMII, por seu lado, defende o “papel vital das organizações culturais no aprofundamento dos princípios democráticos”, numa era “em que as ameaças à democracia são crescentes”. O TNDMII, em seu entender, “tem estado fortemente comprometido com esse desígnio, assumindo o seu papel político de elemento central da liberdade de expressão”. “Vivemos tempos conturbados”, afirmou na referida apresentação. “Todos somos afetados pelas guerras, pelas crises várias, pela economia, pela desigualdade, portanto, por demasiado. Naturalmente uma instituição cultural como esta não é uma ilha, não está isolada da realidade, muito pelo contrário, tem o dever de agir sobre ela, de não ser indiferente e de não se acomodar”.
Quis Saber Quem Sou, com texto e encenação de Pedro Penim e direção musical de Filipe Sambado, que se estreará a 20 de abril, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, é um dos momentos marcantes de Abril Abriu. Outros espetáculos que integram o ciclo: Luta Armada, da companhia Hotel Europa, de André Amálio e Tereza Havlíčková, que se estreará a 4 de abril; Mercado das Madrugadas, de Patrícia Portela, a 9 de maio, no Largo de São Domingos, em Lisboa; 25 de Abril de 1974, de Jorge Andrade, da companhia mala voadora, a 26 de abril no MAAT, em Lisboa e As Areias do Imperador de Victor de Oliveira, a partir de Mia Couto, na Culturgest, a 20 de março.
Por outro lado, a Odisseia vai continuar a percorrer o País, numa parceria com 38 municípios, de novo com dezenas de iniciativas artísticas em torno de cinco eixos: Peças, Atos, Frutos, Nexos e Cenários. Vão circular pelo País alguns espetáculos que se estrearam em 2023 como A Farsa de Inês Pereira, uma recriação do auto de Gil Vicente, do próprio Pedro Penim, que será apresentada no final de janeiro (27), em Amarante, 17 de fevereiro em Vila Nova de Famalicão e de 12 a 23 de março no Porto.
Antecipar o Futuro é o primeiro ciclo a arrancar a 11 de janeiro com mesas redondas, performances como Viaturas, de Ana Mula e Búzio de Ana Baptista, festas, dj sets que vão passar pelo Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, Ferragudu’s Terrace Gastrobar ou Convent’bio, com a Odisseia ainda apontada a Sul.
De novo a Norte, Zoo Story, de Edward Albee, com encenação de Marco Paiva, sobe à cena, a 9 de fevereiro, em Barcelos. Descobri-Quê?, de Cátia Pinheiro, Dori Nigro e José Nunes, terá apresentações em Silves, Torres Novas e Lisboa, no CCB, espetáculos integrados na Rede Eunice Ageas. No CCB também vai estar em cena, em maio, Pérola Sem Rapariga, de Djaimilia Pereira de Almeida, depois de passar por Guimarães. A companhia Amarelo Silvestre, por seu lado, irá apresentar Diário de uma República II, com encenação de Fernando Giestas, em maio, setembro e novembro em Lamego, Ponte de Sor e Sardoal, respetivamente.
Em circulação na Odisseia vai estar também a nova criação de Sara Barros Leitão, Guião para um País Possível, em Alcanena e Miranda do Corvo, em outubro ou As Castro, de Raquel Castro, no final de novembro, em Portalegre e Faro.
É também de destacar a estreia de Terminal (O Estado do Mundo), o espetáculo desenvolvido pela companhia Formiga Atómica, de Miguel Fragata e Inês Barahona, que encerra um projeto de sensibilização ambiental que começou com O Estado do Mundo (Quando Acordas) e vai passar por Idanha-a-Nova e Gafanha da Nazaré. Um projeto apresentado este ano, no âmbito do programa Actos.
“É interessante pensar que estes projetos participativos depois se desenvolvem para a sua versão sala. Há uma ligação, uma ideia de lastro entre os eixos da Odisseia”, como salientava Pedro Penim. É o caso de Penélope II, uma criação de UMCOLETIVO a passar por Montemor-o-Novo, Grândola e Mértola. O mesmo grupo irá apresentar A Paz é a Paz, em Lisboa, no Teatro Romano, Portalegre e Figueira da Foz.
Foram 16 as estruturas artísticas que em vários pontos do País desenvolveram 43 projetos participativos em 2023, no âmbito do Actos e o diretor artístico do TNDMII diz que, em 2024, será tempo “de refletir, sistematizar e disseminar os conhecimentos adquiridos. E, nesse sentido, haverá encontros, conferências, lançamentos, um vídeo e um espaço para novos projetos”.
E a exposição Quem és tu?, com curadoria de Tiago Bartolomeu Costa, continua a sua Odisseia, depois de ter passado por oito concelhos, em 2024 estará por Amarante (13 janeiro a 3 de fevereiro), Barcelos (9 de fevereiro a 2 de março) e Lisboa (6 de junho a 29 de dezembro), no Museu Nacional do Teatro e da Dança.
Numa vasta e diversificada programação, destaca-se ainda o festival PANOS, em Leiria, uma iniciativa do TMDMII destinada a grupos escolares e coordenada por Sandro William Junqueira, assim como o projeto Nós/Nous, de Nuno M. Cardoso em Lisboa, no Teatro Ibérico e École des Maîtres, em Coimbra.