A presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, reiterou hoje que não houve censura na exposição de Robert Mapplethorpe e salientou que todas as decisões foram tomadas de acordo com o curador da mostra.
Ana Pinho falava aos deputados da comissão parlamentar de Cultura a propósito da demissão do diretor do Museu de Serralves, João Ribas, na sequência de requerimentos do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista.
“Não há nem houve qualquer censura”, afirmou, acrescentando que “houve respeito e prudência com a obra de Mapplethorpe”.
Ana Pinho salientou que esta exposição “vai mais longe do que muitas exposições noutros países, que evitaram muitas das obras lá expostas”.
No entanto, a responsável sublinhou que a exposição de Mapplethorpe, na forma final, foi aprovada, assinada e inaugurada pelo curador.
Segundo Ana Pinho, também foi João Ribas quem propôs um espaço reservado.
“Por iniciativa do diretor do museu deveria haver esta ala, foi esta a posição também da administração”, afirmou.
Contudo, “em entrevista, disse que não haveria resguardo, não poderia haver impedimento ao acesso as obras”, afirmou, considerando que com isto, “João Ribas revelou imaturidade e deslealdade”.
“Disse aos jornais o que não disse à administração e à administração o que não disse aos jornais”, realçou.
Para a presidente da Fundação de Serralves, foi um “facto surpreendente” que o diretor do museu diga aos responsáveis da fundação “que a exposição vai ter uma área reservada em que serão colocadas obras mais polemicas” e depois vá “dizer a um jornal algo completamente ao contrário”.
“Isto causou ao conselho de administração uma perda de confiança no diretor de museu porque isto não é possível: dizer uma coisa e depois outra completamente diferente quando está a falar com um jornal”, defendeu.
Ana Pinho contou que o conselho de administração pediu então explicações a João Ribas e que ele não foi capaz de explicar o que tinha dito ao jornal, o que aumentou ainda mais a “perplexidade” dos responsáveis.
Numa visita à exposição do conselho de administração com João Ribas, já após estes acontecimentos, houve uma discussão sobre que obras deveriam ir para a sala reservada, adiantou.
De acordo com Ana Pinho, “ao contrário do afirmado, o conselho de administração nunca retirou nem pediu para retirar nenhuma obra em momento nenhum. Apenas garantiu que aquilo que tinha sido proposto fosse feito”.
Ana Pinho especificou ainda que a ideia de João Ribas de haver uma sala reservada foi permitir que todo o tipo de público visitasse a exposição, até crianças e escolas.
“Não mandámos retirar obras da exposição. O que houve foi uma total contradição entre o que estava combinado e foi publicamente manifestado num jornal. A partir daí o conselho de administração teve de perguntar o que se passava e teve de garantir que o que estava combinado seria feito”, sublinhou.
O historiador José Pacheco Pereira, membro do conselho de administração da Fundação Serralves, considerou que se está a “falar dentro da nuvem das contradições”.
“Temos vários documentos que mostram que essa nuvem de contradições não é nossa. Temos muita facilidade em mostrar”, afirmou Pacheco Pereira, frisando que “é falso” que tenham sido retiradas duas obras.
“As duas obras referidas são muito menos violentas do que algumas que estão expostas. Por que é que nós censurámos duas muito mais pacíficas do que outras que estão na sala? Cenas que podem ser interpretadas como pedofilia, cenas violentas, cenas que não têm sequer palavras em português para as designar estão lá expostas, porque iríamos censurar obras de homens com o sexo à mostra?”, questionou.
Ana Pinho garante que foi João Ribas quem retirou as 20 obras de Mapplethorpe
A presidente do conselho de administração da Fundação Serralves, Ana Pinho, assegurou hoje que foi o diretor demissionário quem retirou 20 obras da exposição Mapplethorpe e admitiu que houve uma alteração à sinalética de aviso para a sala reservada.
Respondendo aos deputados da comissão parlamentar de cultura, Ana Pinho afirmou que “quem retirou as 20 obras da exposição foi o ex-diretor do museu”.
“Vamos repetir quantas vezes for necessário. A resposta será sempre a mesma”, sublinhou.
Quanto às salas reservadas, reiterou que João Ribas concordou com a existência de uma sala reservada e que deveria ter um aviso a dizer que deve ser reservada a maiores de 18 anos ou crianças acompanhadas de um adulto.
“Houve um pedido para que se colocasse o aviso legalmente aplicável e foi-nos dito pelos serviços que era aquele aviso. Verificou-se depois que aquela legislação não é diretamente aplicável por similitude”.
O historiador Pacheco Pereira, membro do conselho de administração da Fundação Serralves, acrescentou que “o próprio João Ribas propôs um aviso que impedia o acesso por menores não acompanhados por adultos”.
Este responsável afirmou que “não houve nenhuma censura” e salientou que “isto é o mais importante, porque foi o que gerou conflito”.
Pacheco Pereira centrou-se inclusivamente nas palavras “liberdade” e “censura”, invocadas várias vezes nas audições parlamentares, tanto por João Ribas como pelos deputados, para afirmar que quem conhece o verdadeiro valor da liberdade não pode concordar com a banalização das palavras “liberdade” e “censura”, porque está a fazer mal à democracia.
Isabel Pires de Lima, também membro do conselho de administração de Serralves, disse aos deputados da comissão que a exposição foi “montada tardiamente” por João Ribas, que no dia 15 ainda não tinha montado nada, razão por que não há catálogo.
Sobre este mesmo assunto, Ana Pinho adiantou que está prestes a haver catálogo.
Relativamente à demissão do diretor artístico do museu, Ana Pinho confirmou que foi feita por SMS.
“Foi também para nós uma grande perplexidade que o diretor tivesse enviado, para mim um SMS, seguido de ‘email’. Nunca mais voltou, abandonou o seu posto de trabalho, julgo que nunca falou com a equipa, não deu qualquer esclarecimento à equipa. Estes são os factos”, contou.
Lusa