Primeiro, vamos aos esclarecimentos: quando bebemos uma garrafa de vinho espumante, não estamos sempre a beber uma garrafa de champanhe. Pode parecer preciosismo – ou algo óbvio – , mas é de preciosismos que é feita a vida e o conhecimento. A famosa região de Champagne acabou por, com toda a justiça, monopolizar a adjetivação deste tipo de vinho, mas temos tantos outros lugares a produzir bons espumantes que é importante dar-lhes o destaque que merecem. Além de que, para ganhar a denominação de Champagne, o espumante tem de ser produzido na região e segundo um método específico, que é rigorosamente controlado pelo Comité Interprofessionnel du vin de Champagne, um órgão regulador que garante que todos os vinhos da região são produzidos conforme mandam as regras. Se estas não forem cumpridas, o vinho continua a ser espumante, mas não pode utilizar a denominação da região.
Este mês, por exemplo, sugerimos dois vinhos de Champagne – é que, por mais voltas que demos, os daquela região são mesmo especiais, o que se explica pela história e a experiência que carregam o terroir e os produtores – e um espumante português, da região de Lisboa, que nos surpreendeu muito de todas as vezes que o provámos e que de imediato subiu para um lugar de destaque na nossa lista de preferências.
Em Champagne, como talvez já saiba, só é permitido utilizar sete castas: Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier (as três mais utilizadas e que ocupam cerca de 99% da área plantada da região), Pinot Blanc, Pinot Gris, Petit Meslier e Arbane. As três primeiras são as mais utilizadas – ambas as referências que lhe deixamos aqui são compostas por um blend de Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, por razões muito concretas: Chardonnay garante estrutura, acidez e frescura, Pinot Noir (a queridinha de onde saem os Blanc de Noirs) dá aos vinhos corpo, aroma e aquela textura que enche o palato e Pinot Meunier é a casta que unifica, que garante equilíbrio e os sabores a frutos vermelhos. Geralmente só usada em conjunto com outras castas, tem ganhado protagonismo nos últimos anos, havendo já algumas experiências de vinho de Champagne 100% Pinot Meunier.
Em Champagne, como talvez já saiba, só é permitido utilizar sete castas.
Em Portugal, não há uma denominação própria para a produção de vinhos espumantes – embora haja quem defenda que a Bairrada e Távora-Varosa a devessem ter, uma vez que é de lá que sai a maioria deste tipo de vinho. Nem, consequentemente, regras quanto às castas que podem ser utilizadas. A nossa sugestão nacional é produzida através de um blend de Arinto e Chardonnay, e pertence à categoria Brut Nature, o que significa que tem menos de três gramas de açúcar por litro.
Flute, taça ou copo?
Uma das curiosidades que há muito se discute em redor do mundo dos espumantes é o tipo de copo que deve ser usado para servi-lo. As “flutes” (flautas) ganharam protagonismo porque, com a sua forma afunilada e boca pequena, conseguem manter a efervescência do vinho durante mais tempo. No entanto, ao não permitirem que este areje convenientemente, acabamos por perder muitos dos seus aromas e sabores ativados aquando da oxidação.
Há quem defenda que os espumantes devem ser servidos nos mesmos copos que serviríamos um vinho branco (ou tinto, mas uma conversa mais alargada sobre copos fica para outra ocasião). Desta forma, teremos a certeza de que vamos retirar o mais elevado potencial da sua evolução após a abertura da garrafa. E são menos copos para ter em casa, o que pode ajudar na arrumação dos armários.
Mas a verdade é que eu, por exemplo, sou uma amante das taças de espumante. É certo que, para uma prova, me vejo forçada a usar um bom copo de vinho de forma a não perder os aromas e a perceber a sua evolução. Mas nada me faz mais feliz do que poder beber um bom champanhe numa bonita taça de cristal, tal como se fazia no início do século XIX – a título de curiosidade, conta a lenda que a primeira taça de champanhe terá sido modelada a partir do seio de Maria Antonieta, rainha de França no século XVIII e esposa de Luís XVI. Mas há também quem defenda que, na verdade, ela foi inspirada pelo seio da marquesa de Pompadour, a amante favorita de Luís XV. Seja como for, houve reis e anatomia francesa na sua idealização.
E seja qual for o copo que tiver à mão, o que importa é que faça destas festas um verdadeiro momento de celebração.

Berbereta Brut Nature 2017
>Região
Lisboa
>Onde encontrá-lo?
No site do produtor (www.romanavini.pt) por €23
> O vinho
É na Quinta de Porto Nogueira, em Alguber, que crescem as uvas que deram origem a este Berbereta 2017, um espumante com notas de ananás, frutos secos e uma bolha fina muito consistente. Um vinho que se destaca pela untuosidade na boca, onde se sente algum mel apesar do praticamente inexistente açúcar. Muito fácil de beber, é ótimo companheiro de pratos de peixe ou carnes brancas, ou para ser tomado apenas como aperitivo – é possível que não chegue à mesa.
Jacquesson 744
>Região
Champagne
>Onde encontrá-lo?
Na garrafeira Living Wine (www.livin-wine.com) por €62,90
> O vinho
Produzido pela família Jacquesson desde os finais de século XVIII, este Champagne resulta maioritariamente de uvas da colheita de 2016 (70%), sendo complementado com vinhos dos três anos anteriores. Com aromas cítricos complementados com maçã já madura, é na boca que aparecem alguns travos a groselha. O carvalho dá-lhe estrutura, tem a acidez certa e é ótima companhia para fruta, aperitivos ou uma bela tábua de queijos.
Krug Grande Cuvée 170ème Édition
>Região
Champagne
>Onde encontrá-lo?
Na Garrafeira Nacional por €395
> O vinho
Resulta de um blend de 195 vinhos de 12 anos diferentes, entre 1998 e 2014, e é um verdadeiro concerto para os sentidos. Depois de sete anos na adega da Maison Krug, esta 170ª edição do Grande Cuvée dá-nos notas de frutos secos, flores e madeira, no nariz, e surpreende com fruta verde e ameixa na boca. Estruturado, cheio, intenso na boca, é a escolha certa para brindar ao novo ano que se quer feliz – ou para acompanhar uma refeição de festa.