1. Jean-Luc Godard – Obra Plástica, Casa do Cinema Manoel de Oliveira
Descobrir que um artista fundamental tem um acervo por revelar desperta voyeurismo, ou, no mínimo, a sensação jubilatória de que nem tudo está contido nos créditos finais. De que a criatividade extravasa os limites do seu percurso. De que há fios a conduzirem-nos para fora de pé. Godard era Godard (1930-2022), pioneiro da Nova Vaga francesa, Papa da modernidade, realizador de À Bout de Souffle/O Acossado (1960) e Pierrot Le Fou/Pedro, o Louco (1965) ou Je Vous Salue, Marie/Eu Vos Saúdo, Maria (1985), iconoclasta. E foi também um artista visual prolífico, militante: o cineasta franco-suíço pintou, desenhou, criou esquissos, storyboards, diários visuais, jogos entre imagem e texto, cadernos de artista e cadernos dedicados ao trabalho fílmico (muitos não sobreviveram…). Estilos? Experimentou tudo, dizem-nos, do abstrato ao figurativo, passando pela paisagem, pelo retrato e pelo autorretrato, colagens, potências plásticas do texto, fotografia. E há ainda a cor, surpreendente, exuberante, indisciplinada.

Esta exposição inédita mostra como, a partir da década de 1940 e até 2022, Godard pontuou a deambulação cinematográfica com o gesto largo da “imagem fixa”, documentando e ampliando aquela, mas explorando sempre além-cinema. É um arquivo vasto. Além de pinturas, desenhos, cadernos de artista, são aqui reveladas, pela primeira vez, as fotografias familiares tiradas pela sua mãe, Odile Monod. E o quotidiano filtrado, por exemplo, pela ferramenta contemporânea dos smartphones. Junta-se-lhes a evocação do encontro de Godard com Manoel de Oliveira, em 1995. S.S.C. Museu de Serralves – Casa do Cinema Manoel de Oliveira > R. D. João de Castro, 210, Porto > até 11 mai, seg-sex 10h-18h, sáb 10h-19h > €20
2. Inaugurações simultâneas de Bombarda

O primeiro ciclo das Inaugurações Simultâneas deste ano inaugura neste sábado, 25. Durante dois meses, até 15 de março, há novas exposições nas galerias de arte do Quarteirão de Bombarda. Na Ap’Arte, o artista de arte urbana Hazul a mostra individual, A Fonte, constituída por 18 obras entre gravuras, uma série de relevos em madeira, telas e um mural gigante (200 x 320 cm). “O que está em cima é como o que está em baixo” é o princípio que serve de lema à exposição de Hazul, onde se exploram os temas da criação, fractalidade e harmonia entre as partes. Em simultâneo, a galeria inaugura mais duas exposições: Além do visível, de Franchini, e Será que alguma vez lá chegaremos?, de Tiago Sousa. A Galeria Fernando Santos expõem obras de pintura de José Loureiro, numa mostra intitulada O Defeito Perfeito que se junta à de Rui Calçada Bastos, What suit me is the silent hall. O trabalho de Teresa Gil e Isabel Braga, Desvios e Derivações, realizado durante os confinamentos da pandemia ocupa a Galeria Serpente. F.A. Quarteirão de Bombarda, Porto > 25 jan-15 mar, várias galerias > grátis
3. Novo ciclo expositivo na Galeria Municipal do Porto

Três exposições: Superfície Desordem, de Jonathan Uliel Saldanha, Febre da Selva Elétrica, de Vivian Caccuri e Assim no Céu como na terra, de Rita Caldo, ocupam os três pisos da Galeria Municipal do Porto. Superfície Desordem, a primeira grande individual do artista Jonathan Uliel Saldanha (patente até 16 fev), transforma o piso zero num ambiente imersivo controlado por inteligência artificial, através da luz, som e elementos escultóricos.
Já no primeiro piso, a artista brasileira Vivian Caccuri estreia-se em Portugal com um trabalho sobre a experimentação do som em composições incomuns. Febre da Selva Elétrica (até 23 fev) apresenta “o som como elemento central à vida, seja como forma de comunicação entre espécies, seja como linguagem, tal qual a música, manifestação artística que mobiliza a humanidade, quer em suas experiências ritualísticas, quer em suas expressões hedonistas.” Já na estreia do piso –1 (dedicado a artistas em estreia), Rita Caldo convida a descobrir o universo plástico desta artista portuense (patente até 2 mar). Galeria Municipal do Porto > Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Jardins do Palácio de Cristal, R. D. Manuel II, Porto > T. 22 507 3305 > até fev/mar, ter-dom 10h-18h > grátis
4. ⒶMO-TE, de Francisco Tropa, Museu de Serralves

O título da ambiciosa mostra monográfica dedicada a Francisco Tropa oscila entre o dramático e o mundano. Na verdade, remete para a transgressão do gesto artístico, e para a revisão da memória – há décadas, esta grafia anárquica foi grafitada nas paredes da Escola António Arroio, influência importante no artista. Comissariada por Ricardo Nicolau, a exposição oscila entre passado e futuro. “Só invento algo novo se não puder usar alguma coisa com que já tenha trabalhado; repetir objetos em situações diferentes enriquece-os”, explica Tropa. Aqui, revisita quer séries passadas, quer trabalho criados nos últimos anos. Como sempre, é difícil catalogá-lo: o artista usa vários média, entre objetos, textos, imagens fotográficas, escultura, que resultam em vinhetas enigmáticas entre o laboratório científico e a instalação. As referências atravessam a História da Arte. A repetição traz um novo olhar. Cabe ao observador captar as múltiplas leituras e colaborar no “carácter performativo” das peças: A Marca do Seio e O Transe do Ciclista serão ativadas todas as terças (16h), quintas e sextas-feiras (ambas às 11h), e também aos sábados (16h). S.S.C. Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 226 156 500 > até 11 mai, seg-sex 10h-18h, sáb 10h-19h > €20
5. Miragaia 1975 – Vida e luta no Pós-25 de Abril, Centro Português de Fotografia
Memórias em fotografia de agosto de 1975, no pós-Revolução, época em que o britânico, cineasta e fotógrafo Humphry Trevelyan chegou ao Porto e retratou um grupo de jovens em Miragaia que tinha criado um centro comunitário numa fábrica abandonada. A exposição testemunha esse tempo. Trevelyan passou os dias a entrar nas suas casas, no seu quotidiano, “onde a agitação política em curso parecia momentaneamente distante”. Centro Português de Fotografia > Lg. Amor de Perdição, Porto > T. 22 0046 300 > até 9 fev, ter-sex 10h-18h, sáb-dom, fer 15h-19h > grátis
6. O Sal da Democracia: Mário Soares e a Cultura, Casa de Serralves

Integrada no centenário do nascimento de uma das figuras fundamentais da nossa democracia, a exposição O Sal da Democracia mostra uma seleção antológica de obras da coleção de arte de Mário Soares (1924-2017), entre pintura, desenho, escultura, tapeçaria e gravura, e da sua biblioteca: livros raros, primeiras edições e manuscritos além de correspondência e dedicatórias. Casa de Serralves, R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 226 156 500 > até 1 jun, seg-sex 10h-18h, sáb 10h-19h > €20
7. O que faz falta – 50 anos de Arquitetura Portuguesa em Democracia, Casa da Arquitectura em Matosinhos
A nova exposição na nave, cujo título parte de uma canção de José Afonso, é a primeira extraída do acervo da Casa da Arquitectura e celebra os 50 anos da Revolução de Abril. Com curadoria de Jorge Figueira, com Ana Neiva como curadora-adjunta, “sublinha a urgência da arquitetura enquanto direito fundamental e serviço público, reflexo das mudanças sociais e catalisadora na construção e consolidação do espaço democrático”. Constituída por 50 obras (49 e um projeto), divide-se em cinco módulos: Revolution, Europa, Fin de Siècle, Troika e Wi-Fi, terminando com a secção After, na qual se inclui uma peça interativa O que faz falta: módulo multimédia participativo, de Sérgio M. Rebelo. Casa da Arquitectura > Av. Menéres, 456, Matosinhos > até 7 set, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €10
8. Ar Quente e Não Só: 100 Anos de Design de Secadores de Cabelo, Casa do Design em Matosinhos

A história do design industrial e da inovação tecnológica dos últimos 100 anos pode contar-se através de secadores de cabelo. Ar Quente e Não Só inspira-se na coleção destes artefactos reunida por Jeremy Aston – o designer britânico a viver no Porto iniciou-a por brincadeira em 1990, ainda estudante de Design Industrial, quando ofereceu à mãe um Duck’n’Dry, um secador em forma de pato. A mostra expõe mais de 170 secadores de cabelo de vários pontos do mundo, alguns de designers reconhecidos como Peter Behrens, Dieter Rams e James Dyson. Casa do Design > Edifício Paços do Concelho, R. de Alfredo Cunha, Matosinhos > T. 22 939 2470 > até 4 mai, ter-sex 10h-13h, 15h-18h, sáb-dom 15h-18h > grátis
9. Object of Projection, de Kim Gordon, Gnration em Braga

A primeira exposição de Kim Gordon (ex-Sonic Youth) em Portugal abriu as hostilidades no campo das artes plásticas da programação da Braga 25 – Capital Portuguesa da Cultura. Nas salas e no pátio do gnration (antigo quartel da GNR), Object of Projection dá uma retrospetiva da última década através de oito instalações performáticas em vídeo, em que a artista norte-americana explora temáticas como a arquitetura, o corpo ou a desconstrução da sacralidade hierárquica do objeto. Kim Gordon começou por assinar estes trabalhos como Design Office, desenvolvendo uma abordagem multifacetada “assente na arte conceptual, instalação, observação e estética punk”. Com curadoria de Lawrence English, a exposição terá visitas guiadas gratuitas até 8 de março. Gnration > Pça. Conde de Agrolongo, 123, Braga > T. 253 142 200 > até 5 abr, seg-sex 9h30-18h30, sáb 10h-18h30 > grátis
10. Casa Dior no Museu da Chapelaria, São João da Madeira

Encerrado há cerca de meio ano para obras de requalificação, o Museu da Chapelaria, em São João da Madeira, reabre neste sábado, 25, com duas novas exposições: Dior na Imprensa Feminina Portuguesa – a partir da moda do costureiro francês Christian Dior nas revistas Eva, Modas & Bordados. Vida Feminina e Voga – e Chapéus Dior, em parceria com o Museu Christian Dior, em França. Museu da Chapelaria, R. Oliveira Júnior, 501, São João da Madeira > T. 256 200 206 > até 20 abr, ter-dom 10h-12h30, 14h-17h30 > €4
11. Ana Vieira: Cadernos de Montagem, Centro de Arte Oliva em São João da Madeira
Onze obras de Ana Vieira (1940-2016), entre as quais cinco instalações, desenhos e anotações da artista sobre o seu processo criativo, mostram parte do trabalho de uma das artistas mais influentes do século XX. Das obras, executadas entre 1977 e 2014, destacam-se Ensaio para uma Paisagem, que até então foi exibida apenas uma vez, em 1997, na sala do Veado do Museu de História Natural e da Ciência, em Lisboa.

Trata-se de um conjunto de sete paralelepípedos executados com diferentes materiais, criando efeitos visuais e sonoros, o que, sem a presença da artista, se revelou num dos principais desafios para os curadores: “Foi como juntar as peças de um puzzle”, referem Antonia Gaeta, Astrid Suzano e Sofia Gomes. Antecâmara, um espaço retangular construído em pladur com paredes pintadas de branco ao qual se acede através de um pequeno corredor, apresentada pela última vez no CAM, Fundação Calouste Gulbenkian, em 2011 – é outra obra em destaque. Centro de Arte Oliva, R. Paula Rego, São João da Madeira > 256 004 190 > até 9 mar, ter-dom 10h-12h30, 14h-17h30 > €3