Elvis and Me, a autobiografia de Priscilla Presley que agora Sofia Coppola adapta ao cinema, começa por defender o próprio Elvis, apelando a que não julguem aquilo que não conhecem, para depois relatar como foi receber a devastadora notícia da sua morte. Nada disto interessou particularmente a Sofia Coppola.
O retrato cru que faz de Elvis, através do olhar de Priscilla, não é de compaixão nem de deslumbramento. Interessa-lhe mais expor a fragilidade da própria Priscilla, uma adolescente que foi encaminhada para uma vida em que o luxo e a luxúria tapavam um ambiente insalubre, a roçar a demência.
O Elvis que vemos dificilmente escaparia a um crivo acertado do #MeToo. Revela-nos um homem frágil, dependente de comprimidos, rodeado por uma corte de bajuladores, que disfarça as suas fragilidades com acessos de violência e que, além de trair, condiciona psicologicamente, de forma violenta e perversa, a sua companheira, sobre a qual tem um ascendente social e financeiro.
No filme de Coppola quase nos esquecemos de que Elvis era um génio. Sobra apenas um certo carisma natural, que faz com que se imponha perante multidões, e uma enorme capacidade sedutora. Este Elvis também não é um monstro perverso. É apenas alguém que, no meio da fama e do sucesso, se encontra perdido. E Priscilla é sobretudo uma figura que oscila entre o deslumbre, o espanto e a desilusão.
No meio disto tudo, Sofia Coppola opta por uma narrativa relativamente clássica. Coloca o foco no feminismo, transformando “o rei” numa personagem secundária, humanizando a sua divindade. Nesse sentido, é um filme feminista, transformador de perspetivas, que serve de contrabalanço às biografias idolátricas de Elvis. Ao mesmo tempo, é um dos mais convencionais filmes da realizadora americana, em que não se sente nenhum momento de rasgo, distante da ousadia das primeiras obras, sobretudo Virgens Suicidas e Lost in Translation.
Priscilla > De Sofia Coppola, com Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen > 113 min