O prédio no número 16 da Rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique, Lisboa, é mais do que nunca um pequeno museu dedicado à vida e obra de Fernando Pessoa. Pequeno só em tamanho, porque nele cabem “todos os sonhos do mundo”, célebre verso de Álvaro de Campos. É precisamente pela heteronímia que se começa, no terceiro piso (o sentido de visita aconselhado é de cima para baixo, depois da entrada pela loja/bilheteira). Somos recebidos por uma máquina de escrever usada por Fernando Pessoa, na empresa Moitinho de Almeida, e depressa nos embrenhamos, sempre sob uma luz ténue que inevitavelmente nos separa da rua lá fora, nos muitos eus do escritor e em todos os jogos de identidade(s) que, desde muito cedo, fizeram parte da(s) sua(s) vida(s).
Um ecrã tátil permite conhecer a fundo todos os heterónimos e pseudónimos pessoanos, por mais efémeros que tenham sido. A nova organização da Casa Fernando Pessoa tem essa grande qualidade de permitir diversos graus de envolvimento – e é tão eficaz para turistas apressados como para quem quer explorar tudo com tempo. Ainda no mesmo andar podemos sentar-nos e ouvir, nos auscultadores, vários textos de Pessoa e seus heterónimos (gravados por atores, como João Reis ou Marcello Urgeghe, propositadamente para este dispositivo).
No segundo piso está o “cofre-forte da exposição”, nas palavras de Clara Riso, diretora da Casa Fernando Pessoa desde 2014. É emocionante estarmos sozinhos numa sala com os livros que pertenceram a Pessoa e com a estante, vazia, em que habitaram (podem, todos, ser explorados no site). Ali, pode ainda ver-se o filme. O primeiro piso é o mais convencional num museu do género e também o que mais nos aproxima da pessoa que Pessoa foi ao longo de 47 anos, através de vários objetos, fotografias, histórias, testemunhos (obrigatório o vídeo com a sobrinha do escritor, Manuela Nogueira, que nasceu naquela casa, em 1925).
A saída para o mundo real, para a luz exterior do presente, é comovente. Olhamos para a última frase escrita, em inglês, a lápis, pela mão de Pessoa, no Hospital de S. Luís dos Franceses, em novembro de 1935: “I know not what tomorrow will bring”. Ah, o futuro, os amanhãs, a posteridade.
A nova Casa Fernando Pessoa continua a dispor de um auditório e de uma biblioteca especializada em poesia acessível a todos os visitantes. O já clássico restaurante Flagrante Delitro também continua aberto diariamente (exceto ao domingo) das 10h às 23 horas.
Casa Fernando Pessoa > R. Coelho da Rocha 16, Lisboa > T. 21 391 3270 > ter-dom 11h-17h > €5, grátis em setembro, sujeito a reserva através de visitas@casafernandopessoa.pt