
O espetáculo será visto com óculos especiais para que o imaginário do grupo, projetado numa grande tela, seja observado por todos a três dimensões
DOMINIQUE FAGET
Quando surgiram, no início da década de 70, os Kraftwerk assumiram-se, desde logo, como um caso à parte na então muito ativa vanguarda experimental alemã, pelo modo pioneiro como recorriam às máquinas para criar uma nova sonoridade. Em conjunto com outras bandas alemãs, como Can, Neu! ou Tangerine Dream, utilizaram a música para cortar com o conturbado passado do pós-guerra alemão, com a memória dos nazis mas também com a influência dos ocupantes norte-americanos. O krautrock, como viria a ficar conhecido esse movimento, misturava rock psicadélico e free jazz com eletrónica experimental, mas os seus objetivos (artísticos e sociais) iam muito além da música e os Kraftwerk foram quem melhor o simbolizou.
Foi, no entanto, necessária uma validação exterior para os tornar algo mais do que um obscuro fenómeno de culto, e essa chegou através de David Bowie que, quando se mudou para Berlim, em meados dos anos 70, se inspirou também naquela estranha música mecânica para fazer a sua aclamada “trilogia de Berlim”. Por essa altura, já o grupo criado por Ralf Hutter e Florian Schneider, quando ambos estudavam no Conservatório de Düsseldorf (apenas o primeiro se mantém no grupo) tinha composto as obras-primas que haviam de garantir-lhe um lugar de destaque na história da música popular, como Autobahn (1974), Radio Activity (1975) e Trans Europe Express (1977), aos quais se seguiriam The Man Machine (1978) e Computer World (1981).
Sem o saberem, não só estavam a mudar o curso da história da música popular, antecipando a chegada da eletrónica que é hoje norma, mas também a projetar uma sociedade consumista e robotizada. Muito mais do que mero grupo musical, os Kraftwerk são um conceito artístico e é isso mesmo que o coletivo constituído pelo fundador Ralf Hütter ao lado de Fritz Hilpert, Henning Schmitz e Falk Grieffenhagen vem mais uma vez mostar em Portugal. Agora, com projeções em 3D.
Kraftwerk > Hipódromo Manuel Possolo > Av. da República, 371, Cascais > T. 21 482 1720 > 31 jul, qua 20h30 > €25 a €55