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Surpreendente, também, é a transfiguração de Christian Bale em Dick Cheney, um trabalho que deve valer a “Vice” um Oscar pela caracterização
Michael Moore é hábil na construção de teses em documentários, defendendo claramente causas, acreditando num cinema de intervenção, sem sentir necessidade de esconder a sua posição em relação aos assuntos retratados, seja a circulação de armas ou o mundo financeiro. O realizador Adam McKay faz o mesmo usando a ficção. Já havia sucedido em A Queda de Wall Street, a propósito da banca, e volta a acontecer neste Vice.
E qual é a tese de Vice? Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos da América durante a administração de George W. Bush, é o culpado dos mais horrendos crimes contra a Humanidade, desde a injustificada invasão do Iraque à negligência, ou ocultação de informação, dos serviços secretos que facilitou o crescimento do Estado Islâmico. McKay mostra-nos um hábil manipulador, que fez do Presidente Bush uma marioneta, adepto do poder pelo poder, vazio de ideologia, mas ao serviço dos grandes capitais. Tudo neste filme se desenvolve em volta de uma quase teoria da conspiração, mas perfeitamente plausível, especulada a partir de factos concretos.
Vice não é apenas uma biografia não autorizada, é uma biografia que ataca violentamente o biografado ao mesmo tempo que recolhe elementos que justificam a sua discreta ascensão. Tudo isto é tratado com humor, bastante ao estilo de Michael Moore, com uma constante desconstrução narrativa. Aliás, a estrutura é um dos pontos mais criativos do filme, que chega a colocar o genérico final in medias res, entre outros inesperados dispositivos. Surpreendente, também, é a transfiguração de Christian Bale (mais uma), um trabalho que deve valer a Vice um Oscar pela caracterização. Mais surpreendente, ainda, é como Bale, apesar de todo aquele botox na cara, consegue uma interpretação mais do que convincente.
Veja o trailer do filme
Vice > De Adam McKay, com Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell > 132 minutos