A metáfora podia estar no uso das cores. Os totes – também conhecidos como “sacolas de pano” – da edição comemorativa dos 25 anos do Festival Alkantara misturam roxo-bebé com laranja-salmão-choque, laranja- -salmão-bebé com verde-água-choque. O saco, feito de cores e tons suaves, discreto, traduz a bagagem, a história da iniciativa e da associação, que foi fundada em 1993 por Mónica Lapa e começou por chamar-se Danças na Cidade. As letras impressas, de tons garridos que quase brilham no escuro, representam o lado visível, o lado festivo, a jovialidade, a projeção no futuro.
“A tentação de entrar na nostalgia é grande. Uma das questões, para mim, é fazer mesmo a festa. Quase como um drone que vai sobrevoar a festa e tentar perceber o que ela é…”, diz Thomas Walgrave. “Um exemplo fortíssimo disso é o trabalho do coreógrafo japonês Toshiki Okada, que fez, em 2003, um espetáculo histórico e que foi uma bomba no teatro contemporâneo no Japão. Chama-se Five Days in March e fala sobre uma geração de jovens japoneses no momento em que os aliados invadem o Iraque. Pela primeira vez, desde os traumas da Segunda Guerra Mundial, o Japão fez parte de uma operação militar. E há uma espécie de indiferença por parte da juventude…”, continua Walgrave. “Quinze anos depois, Toshiki faz agora uma reencenação com atores muito novos, tendo esta ideia em mente: é para comemorar, mas é também para perceber o que aconteceu desde então.”
No último ano em que está à frente do festival, Walgrave refere que a sua linha é… não ter linha, a escolha dos artistas tem que ver com a sensibilidade de “perceberem o que está à sua volta antes de fazerem as primeiras páginas dos jornais”. “Nesta edição, isso traduz-se em preocupações como a identidade, o local [por oposição ao global], os refugiados, a água, a arte que se pensa a si própria, a arquitetura…” E lembra também os 50 anos do Maio de 68 e do Tropicalismo. Christiane Jatahy, a Artista na Cidade deste ano (uma iniciativa da EGEAC), também regressa ao festival, desta vez com Ítaca – Nossa Odisseia I. Walgrave fala da importância da ideia de recorrência e continuidade. “A primeira vez que trazes um autor, isso é considerado autoria, como programador. Quando volta pela terceira vez, a ligação já é direta entre ele e o público.”
Alkantara > Castelo de São Jorge, Culturgest, Espaço Alkantara, Maria Matos Teatro Municipal, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Nacional D. Maria II > Lisboa > T. 21 315 2267 > 23 mai-9 jun