
Raposa do Deserto, novo trabalho que será apresentado em ‘Attero’
D.R.
Muitos ficaram hipnotizados pelo guaxinim gigante emparedado junto ao CCB, muitas selfies já foram captadas com a libélula gigante do restaurante Infame, alguns não esquecem os flamingos criados para o primeiro Festival Iminente em Oeiras, outros embasbacam perante o pelicano tatuado no navio ferrugento de Aruba ou o urso gigante numa esquina de Turim. São já 88 as obras da série Big Trash Animals espalhadas por 19 países, assinadas pelo street artist Bordalo II, 30 anos. Em quatro anos, ele transfigurou 28 toneladas de desperdícios em instalações gigantes amassadas com mangueiras, latas, plásticos, restos de carros, objets trouvés. Materiais respigados, conta, em aterros ilegais, centros de reciclagem da Câmara Municipal de Lisboa, oficinas de carros, achados de rua: “Às vezes, encontro materiais que se adequam ao que tinha planeado para a obra, outras, vou à procura de peças específicas. Muitas vezes há que moldar, cortar, aparafusar, até que o material sirva para o que quero”, explica o artista, descido da grua para conversar ao telefone com a VISÃO Se7e.

Half Rabbit, peça feita para o festival Gaia Todo o Mundo, em Vila Nova de Gaia
D.R.
Este percurso singular é antologizado em Attero (desperdício, em latim): “A exposição é um apanhado do meu trabalho, consciente de que o caminho é sempre uma evolução.” Todas as 35 peças apresentadas, de pequena e grande escala, são únicas e novas. O cenário é um armazém devoluto e degradado, criando uma “ressonância” com o seu trabalho que Bordalo II diz ser importante. Mas haverá murais espalhados na cidade: dois nas ruas próximas (Xabregas e Manutenção), um na Avenida 24 de Julho, e ainda outro inédito mostrado no Cais do Sodré. Todos com uma intenção denunciadora do desperdício da nossa sociedade. Vê-se como artista militante? “Essa é uma palavra forte… Antes ativista. É importante que o meu trabalho não seja meramente decorativo. Sendo uma obra de arte pública, é uma oportunidade para conversar com as pessoas e é importante que eu tenha alguma coisa para dizer.” A efemeridade não o perturba: “Nada dura para sempre. Mas não é por esta ser arte pública que vai durar menos do que uma pintura. O que fica é memória, o impacto em quem viu a peça.”
Ética arty: haverá visitas guiadas à Attero (com o biólogo João Farinha no dia 11; com a curadora Lara Seixo Rodrigues a 18; com o Bordalo II a 26), uma tertúlia dedicada ao lixo marinho com a bióloga Paula Sobral (12), e workshops para crianças desfavorecidas (19 e 25).

Flamingos, trabalho criado para o primeiro Festival Iminente, em Oeiras
D.R.
Attero > Armazém > R. de Xabregas, 49, Lisboa > T. 91 610 9764 > info@mistakermaker.org > 4-26 nov, qua-dom 14h-20h > grátis