
Em setembro do ano passado, o filme de Stéphane Brizé venceu o Prémio FIPRESCI, atribuído pela Federação Internacional de Críticos de Cinema, no 73º Festival de Veneza
Toda a gente mente… Esperava outra coisa.” A frase, dita a dada altura por Jeanne (Judith Chemla), como uma revelação, traduz bem a natureza do conflito de A Vida de uma Mulher, de Stéphane Brizé. Passado na Normandia, em pleno século XIX, o filme acompanha a vida de Jeanne Le Perthuis des Vauds, uma mulher ingénua e delicada, educada para amar a beleza – a natureza, a poesia, a fraternidade, a lealdade, o amor puro –, sob a proteção dos pais e da Igreja Católica.
Depois de sair do convento onde estudou, Jeanne vai confrontar-se com uma realidade que defrauda os seus ideais: o casamento com Julien, marcado pelo adultério e pela hipocrisia do marido; a descoberta de que também a mãe e a sua amiga mais próxima, Gilberte de Fourville, praticam adultério; e, mais tarde, a dolorosa relação com o filho, que parte ainda muito jovem para Londres e só lhe escreve a pedir dinheiro, acabando por levá-la à miséria.
A busca por uma vida simples, pautada por sentimentos verdadeiros e pela felicidade das pequenas coisas – plasmada no título do livro Une Vie ou L’Humble Vérité, de Guy de Maupassant, no qual o filme se inspira –, é o fio condutor destes (e de todos os outros) conflitos de Jeanne, de onde sobressai a sensibilidade poética do realizador francês Stéphane Brizé.
A predominância de grandes planos e de planos de pormenor e o aturado trabalho de sonoplastia, aliados à magnífica interpretação de Judith Chemla, tornam-nos cúmplices desta personagem. Testemunhas da dúvida e do sofrimento de uma mulher em guerra (interior) com o seu tempo.
A Vida de uma Mulher > de Stéphane Brizé, com Judith Chemla, Jean-Pierre Darroussin, Yolande Moreau > 119 min