“Pensava que podíamos viver música a música, beijo a beijo”. A frase, dita a dada altura por Faye (Rooney Mara), traduz bem o que está em causa na nova obra de Terrence Malick. Filmado na cidade de Austin, Texas, conhecida pela sua fortíssima indústria musical, o filme parte de um certo ideal de vida de rock star – vivida experiência a experiência, sempre no limite – para refletir sobre o valor do amor, do perdão e de uma verdadeira busca pela liberdade. Em Música a Música, seguimos as aventuras e desventuras de um quadrado amoroso (protagonizado por um elenco de luxo: além de Mara, temos Michael Fassbender, Ryan Gosgling e Natalie Portman), que procura nesse “estrelato” – e no mundo de facilidades que isso representa – a felicidade.
Tal como noutros filmes do realizador norte-americano, a “salvação” só é possível através do amor. Neste caso, de Faye e BV (Gosgling), que encontram um no outro – e no fundo de si próprios – o caminho para “uma vida mais simples”, longe das distrações da modernidade. É brilhante o trabalho do corpo que Malick cria, juntamente com os atores, como se os filmasse por dentro. Os seus movimentos de câmara, que perscrutam as personagens, e a preponderância da voz off atingem especial força neste filme em que mergulhamos, de facto, na interioridade destas pessoas (ao contrário de A Árvore da Vida, cujo resultado é bem mais abstrato).
Rodado naquela que é apelidada de “capital mundial da música ao vivo”, Música a Música conta com aparições de bandas como Red Hot Chili Peppers, Arcade Fire, Fleet Foxes, e de músicos como Iggy Pop ou Patti Smith. Entre todos, é a autora de Horses que tem o papel mais curioso quando, fazendo dela própria, mostra a Faye a aliança de casamento que mantém no dedo mesmo depois de 23 anos de viuvez. Mesmo depois de uma vida inteira de rock ‘n’ roll.
Música a Música > de Terrence Malick, com Michael Fassbender, Rooney Mara, Ryan Gosgling, Natalie Portman > 129 minutos