“A vida serve para ser dançada”, anuncia Ana (Cleia Almeida) em tom esperançoso. “É uma imbecilidade não aceitar o convite”, acrescenta. “Mas será possível ter uma vida dançada quando se está permanentemente a tentar sobreviver até ao mês seguinte?”, questiona Levi Martins que, juntamente com Maria Mascarenhas, encena Tentativas Para Matar o Amor, o texto de Marta Figueiredo vencedor do Grande Prémio de Teatro Português SPA/Teatro Aberto de 2015.
Ana é uma mulher dividida entre a ideia de viver o amor de forma livre e a (im)possibilidade de pôr essa fantasia em prática. Casada com João, personagem ausente da narrativa, vive uma relação intermitente com Jaime (Tomás Alves) há uma década. A peça faz-se de fragmentos de memórias das suspensões e regressos a este relacionamento numa “efervescência permanente”. Em cena está também Manuel (Eurico Lopes), um contraponto à forma impetuosa de sentir de Ana e de Jaime.
Tal como a sociedade atual, as personagens estão rodeadas de imagens em ecrãs quadrados, retangulares, redondos… “O cinema é sempre um registo do passado e o teatro é sempre presente. Existe uma diferença entre o que é dito em cena e o que aparece filmado.” Será que as vozes em palco se recordam dos acontecimentos como eles realmente aconteceram? Afinal, a forma como nos relacionamos com as nossas memórias afeta a relação com os outros.
“Há uma diferença entre o que idealizamos, por exemplo no amor, e o que vivemos na prática”, esclarece Levi Martins, admitindo uma postura “quase política” perante o amor: “O quotidiano condiciona de forma evidente os relacionamentos entre as pessoas.” E, se o amor é “transbordar todas as regras ou convenções”, então, numa sociedade que valoriza a eficiência e a eficácia, torna-se imperativo tentar matá-lo.
Tentativas Para Matar o Amor > Teatro Aberto > Pç. de Espanha, Lisboa > T. 21 388 0089 > até 16 abr, qua-sáb 21h30, dom 16h > €7,5 a €15