
Dividida entre a Nave do Território e a Nave da Comunidade, a Casa da Memória recorre a conteúdos ecléticos e inovadores, brincando com os estereótipos referentes a Guimarães
Deve chegar-se à Casa da Memória sem os minutos contados. Lá dentro, a ideia é deixarmo-nos levar pelo que encontramos. Vejamos com calma, por exemplo, como termina a exposição da nave dedicada à Comunidade. De um lado, dezenas de caixas de madeira penduradas na parede, com a gravação do primeiro nome de figuras importantes, guardam no interior uma breve explicação sobre o seu papel na história de Guimarães. Do outro, vídeos com os testemunhos de pessoas que vivem ou tiveram uma relação com a cidade (desde o futebolista Neno a dona Augusta da Adega dos Caquinhos), onde falam sobre as suas memórias. Um exemplo de como os conteúdos ecléticos e multidisciplinares deste centro interpretativo oscilam entre a grande e a pequena História.

“Não temos uma mais-valia de espólio patrimonial, trabalhamos sobre o que está nos equipamentos culturais, instituições e associações da cidade, funcionando a exposição como ponto de partida para a descoberta dos mesmos”, explica Catarina Pereira, diretora da Casa da Memória, instalada nos edifícios recuperados da antiga fábrica de plásticos Pátria. Reproduzem-se mapas, documentos, fotografias históricas, achados arqueológicos e outros materiais que ajudam a refletir sobre o território e a sua comunidade. Fala-se, inclusive, dos futuros incompletos, das utopias por concretizar – como a proposta de demolição do Castelo, apresentada em 1836 pela Sociedade Patriótica Vimaranense – trabalhadas em ilustrações da artista Ana Aragão. Também o escritor Gonçalo M. Tavares e o fotógrafo Tito Mouraz foram convidados a intervir na Casa da Memória. O primeiro, a partir de uma seleção de 11 objetos (os tambores dos Nicolinos, a espada de Afonso Henriques ou os sardões e passarinhas das festas de S. Luzia), ficcionou pequenas narrativas. O segundo, na série Retrografias de Guimarães, confronta imagens do passado e do presente, mostrando como o património se reinventa. “Deixamos alavancas que põem o público a pensar sobre a memória, mas brincamos com os estereótipos”, aponta Catarina Pereira. O trabalho de recolha e de tratamento de documentação continuará, com constantes atualizações dos conteúdos expositivos. A mostrar que a memória está em construção contínua.
Casa da Memória > Av. Conde Margaride, 490-502, Guimarães > T. 253 421 282 > ter-dom 10h-13h, 14h-19h > €3, dom 10h-13h > grátis