Ostenta a pose de quem está zangado com o mundo, incapaz de conter a frontalidade e o mau humor na hora de criticar tudo e todos e de mostrar a sua repulsa pelas convenções sociais. Alceste (interpretado por Luís Araújo), o herói atípico criado por Molière, tal como as crianças mimadas, carrega um boneco de peluche, faz birras e não consegue ver para lá do seu umbigo. “Odeio os homens todos!”, exclama. Não consegue, no entanto, ser imune aos encantos da viúva Celimena (a atriz Joana Carvalho), uma coquete maldizente que domina de forma brilhante os jogos de salão e lhe provoca um ciúme desmesurado. “É uma das primeiras figuras no teatro que retrata uma mulher independente, que define o seu próprio destino, nem que seja à custa da conquista de vários homens”, sublinha Nuno Cardoso, o encenador, que guarda da personagem uma visão muito positiva, qualificando O Misantropo como “uma peça feminista”.
Uma comédia sombria, difícil de catalogar, que contém uma forte sátira ao poder e à corte de Luís XIV, fútil e dependente dos favores do Rei-Sol. “Aquilo que fazemos não passa pela arqueologia, mas pela reflexão sobre o agora, sobre os jogos de interesses e o bom-tom que domina as happy hours”, adianta Nuno Cardoso, cuja encenação de Demónios recebeu recentemente o prémio de melhor espetáculo de teatro de 2015, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores. O cenário e os figurinos à Saturday Night Fever, com o Love’s Theme, de Barry White, a alimentar os desejos carnais, remetem para uma discoteca, onde se vai para se ver e ser visto, com um palco bifrontal, a fugir para lá da boca de cena, transformado em pista de dança. “Atualmente, o que temos de mais parecido com um salão de festas do século XVII é o Facebook, que seria difícil de reproduzir em palco”, explica Nuno Cardoso para justificar esta opção. “Construímos um espaço hedonista e festivo, mas, ao mesmo tempo, esta brancura de morgue permite fazer a anatomia teatral.” Let’s Dance!
TNSJ > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 7-24 abr, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €7,50 a €16
Teatro de Vila Real > Alameda de Grasse, Vila Real > T. 259 320 000 > 7 mai, sáb 21h30 > €7
São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7650 > 11-15 mai, qua-sáb 21h, dom 17h30 > €12 a €15
Centro de Arte de Ovar > R. Arq. Januário Godinho, Pq. Sra. Da Graça, Ovar > T. 256 585 451 > 28 mai, sáb 22h > €5
Teatro Municipal de Bragança > Av. Sá Carneiro, Bragança > T. 273 302744 > 2 jun, qui 21h30 > €6
Centro Cultural Vila Flor > Av. D. Afonso Henriques, 701, Guimarães > T. 253 424 700 > 4 jun, sáb 22h > €7,50