Talvez por fanatismo cabalístico ou por pura excentricidade, Quentin Tarantino determinou que na sua carreira de realizador só cabem dez filmes. Feitas as contas, depois de Os Oito Odiados (The Hateful Eight), só faltam mais dois. E esta talvez tenha sido uma bala desperdiçada. Não é que Os Oito Odiados não seja bom. Mas é o filme de Tarantino mais parecido com todos os outros. Isto é, o mais redundante. O título remete-nos para uma versão de Os Sete Magníficos do lado do mal. E é mais ou menos o que acontece, neste western maléfico, situado historicamente no pós-Guerra Civil Americana mas cheio anacronismo estilístico, que transporta a ação sobretudo para o limbo cinematográfico onde se situa todo e qualquer filme do realizador. As personagens, convocadas numa estrutura de argumento geométrica quase teatral, são realmente odiosas e selvagens, com traços distintivos e por vezes forçados. Há reminiscências óbvias de Cães Danados, o primeiro filme de Tarantino, não só pela quantidade de personagens, mas também pela violência sádica e gratuita. Basta olharmos para o sorriso inapropriado de Michael Madsen para anteciparmos sadismo. Aqui Tarantino eleva a um extremo o seu gosto pelo gore que o aproxima do seu irmão cinéfilo Robert Rodriguez: há litros de sangue, cabeças que explodem como se fossem melancias, braços decepados arrastados por umas algemas. E também uma troca diegética que só não surpreende porque já a vimos Pulp Fiction. Os Oito Odiados é um filme que os fãs de Tarantino não vão querer perder. Mas também não perdem se tiverem visto todos os outros.
Quentin Tarantino filmou Os Oito Odiados em 70mm, ou seja, com uma definição superior aos 35 mm habituais e ao formato digital. Contudo, esta mais valia só poderá ser devidamente apreciada em salas preparadas para o efeito.
Os Oito Odiados > De Quentin Tarantino, com Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins > 187 min