1. The Last of Us (HBO Max)
Aclamada pela crítica, a série criada por Neil Druckmann (autor do videojogo homónimo que está na sua génese), e escrita a meias com Craig Mazin, gerou uma nova legião de fãs, além dos fiéis jogadores da PlayStation. Sobreviver num mundo destruído por uma pandemia não será fácil, mas acompanhado poderá ter mais vantagens.
Da música do genérico, assinado por Gustavo Santaolalla, aos protagonistas, com Pedro Pascal a ganhar o estatuto viral de daddy e Bella Ramsey a sobressair; dos guiões de episódios específicos, como a história de amor entre Bill e Frank, na terceira parte intitulada Long, Long Time, ao aspeto dos Cordyceps, fungo parasita transformado num zombie – houve razões de sobra para gerar interesse por The Last of Us, cuja segunda temporada só estreará em 2025.
2. Succession (HBO Max)
Desde 2018, passaram quatro temporadas e 39 episódios centrados na vida dos Roy, um patriarcado liderado pelo impiedoso Logan, os quatros filhos, Roman, Connor, Shiv e Kendall – mais antagónicos não podiam ser – sempre com o primo Greg e o genro Tom a quererem também tirar partido das situações que levariam à sucessão na empresa de media.
Um quotidiano que misturava a intimidade e os negócios, vidas de luxo e de excentricidade (tantos helicópteros!), atitudes confiantes e causticas, elogios e compadrios e um funeral como há muito não se via na ficção. Uma irmandade desfeita com diálogos de mestre e uma música composta por Nicholas Britell que ficará para sempre na cabeça.
3. The Bear (Disney+)
Já tínhamos elegido The Bear como uma das melhores séries de 2022, e cá está ela de novo a figurar entre as nossas escolhas para 2023. Sim, já tínhamos elogiado a série sobre o tenso dia a dia de um restaurante de Chicago e os traumas que as pessoas que lá trabalham carregam. Mas nada nos preparou para a segunda temporada que se estreou neste ano, centrada em montar um novo restaurante no mesmo sítio. Em 10 episódios, Carmy “Carmen” Berzatto (interpretado pelo ator Jeremy Allen White) e companhia tentam, a contra-relógio, com todas as licenças, estágios, obras e modificações que isso implica, transformar um modesto bar de sanduíches num restaurante de alta-cozinha com vontade de ganhar Estrelas Michelin. Em The Bear, de Chistopher Storer, a comida é só o anzol.
4. A Arquiteta (Filmin)
Contas feitas, esta minissérie norueguesa, premiada no Festival de Berlim, integra o top 10 das produções mais vistas em 2023 na plataforma de streaming Filmin, dedicada a obras alternativas e independentes.
Com a crise da habitação no auge nas grandes cidades europeias, e não só, é natural o interesse nos quatro episódios d’A Arquiteta. A inusitada situação de só conseguir alugar um lugar de garagem num parque de estacionamento subterrâneo dá que pensar.
5. Rabo de Peixe (Netflix)
Ficámos entusiasmados quando conversámos com Augusto Fraga, realizador e um dos argumentistas da segunda produção lusa original para uma plataforma de streaming. A expectativa aumentou depois de entrevistar José Condessa. A simplicidade do criador, a maturidade do protagonista e o talento de toda a equipa serviu que nem uma luva para representar uma história real, com muita droga (e os palavrões ditos pela personagem de Albano Jerónimo) à mistura. Rabo de Peixe esteve nos tops das séries mais vistas em vários países, com 31,5 milhões de horas de visualização no primeiro mês, e terá uma segunda temporada.
6. Um Homicídio no Fim do Mundo (Disney+)
A atriz e argumentista Brit Marling e o produtor e realizador Zal Batmanglij – a mesma dupla criativa da série The OA – apostaram numa nova série, com uma boa dose de mistério. Daquele que nos troca as voltas ao raciocínio e nos confunde sobre quem será o culpado.
Darby Hart (Emma Corrin já foi Diana em The Crown) é uma personagem cativante, ao conduzir o espectador pelas suas buscas para solucionar crimes. Outros atores, como Harris Dickinson, Clive Owen ou Alice Braga, dão ainda mais consistência ao argumento que prima tanto pela modernidade da Inteligência Artificial, como pelo lado mais palpável da vida, nas páginas de um livro.
7. Beef (Netflix)
Em português chama-se Rixa, palavra que o dicionário dá como uma desavença acompanhada de injúrias. Na verdade, é assim que a realização do sul-coreano Lee Sung Jin começa – com um picanço entre dois condutores a resultar num pequeno acidente. Daí até se questionar o sentido da vida é um crescendo de insólitos, vinganças, rivalidades, provocações e insatisfações de duas pessoas, filhos de emigrantes asiáticos em Los Angeles. Steven Yeun (Minari) e Ali Wong são os protagonistas e tanto nos fizeram rir como puseram a pensar.
8. Motel Valkirias (RTP Play e HBO Max)
Quando Motel Valkirias estreou, em fevereiro, mal sabíamos que Marina Mota terminaria 2023 no palco do São Luiz, com Bravo 2023!, a revista à portuguesa do Teatro Praga. Atriz do Parque Mayer, em Lisboa, tantas vezes apelidada de “a nova Ivone Silva” e de artista popular, é muito associada à comédia, mas a sua personagem neste thriller luso-espanhol puxa por uma interpretação mais taciturna. O sotaque galego, a atitude resmungona e o coração grande fizeram de Marina Mota uma das nossas protagonistas favoritas do ano. A atriz contracena com Maria João Bastos e María Mera, três mulheres com percursos muito diferentes unidas por um homicídio acidental.
9. The Consultant (Prime Video)
Com a maior parte da ação passada em ambiente de escritório, The Consultant assentou que nem uma luva ao carisma de Christoph Waltz, ator austro-alemão que leva a série toda às costas. A expressão facial matreira do personagem Regus Patoff tem muitos laivos de sociopata. Ainda o gabinete do patrão da CompWare, empresa que cria jogos para smartphones, não tinha sido limpo do sangue, após ter sido assassinado, e já o consultor Patoff lá está instalado. Narrativa improvável e quanto mais longe da realidade, melhor.
10. A Diplomata (Netflix)
A linguagem é acessível, sem ser preciso tirar um curso de Relações Internacionais para compreender incidentes diplomáticos e reveses “à la James Bond”. Os protocolos são algumas vezes quebrados quando Katy Wyler (Keri Russell) é convidada para ser embaixadora norte-americana no Reino Unido. É verdade que um ataque terrorista atribuído ao Irão, ao atingir um porta-aviões britânico, não facilita a vida à diplomata, mas a série de Debora Cahn, argumentista e produtora de The West Wing, Homeland e Anatomia de Grey, dá muito bem a volta a tensões políticas, opiniões polarizadas, estratégias frustradas e novos relacionamentos.