Só a distância permite afirmar que O Tal Canal foi um rasgo de génio, um “grito de liberdade não panfletária”, como Herman José, autor do programa, já o definiu – num País que nem dez anos tinha de democracia e televisão a cores, só há três.
É com assumida nostalgia que se brinda a cada uma das décadas passadas – e já lá vão quatro – sobre a paródia que revolucionou o humor português, dando início a ondas de choque que perduram até hoje.
A celebração da estreia do primeiro grande êxito de Herman José, com 29 anos, a 22 de outubro de 1983, começa nesta quinta, 19, com uma conversa com “o verdadeiro artista” na RTP1.
Herman revisita memorabilia e adereços, bem como memórias do elenco, de cenas e sketches ou como a estação pública alinhou na brincadeira – a censura só aconteceria, em 1987, com a suspensão de Humor de Perdição, por causa das Entrevistas Históricas. Mas, reflexivo, também fala do que poderia ser hoje O Tal Canal.
Os textos, quase na totalidade, escritos por Herman José, num “trabalho doentiamente solitário”, faziam troça do funcionamento de um canal privado fictício, dirigido por Oliveira Casca, bem como dos seus programas e funcionários. Ainda se lembra das locutoras de continuidade?
Personagens como Tony Silva, “o grande criador de toda a música ró”, surgida no Passeio dos Alegres (1980), programa de Júlio Isidro, atingiram o estrelato n’O Tal Canal , tal como o insubordinado Menino Nelito ou José Esteves, com “muita pomada”.
Com Helena Isabel, Lídia Franco, Manuel Cavaco, Margarida Carpinteiro, Natália de Sousa e Vítor de Sousa, O Diário de Marilu foi a primeira sátira à telenovela, uma inspiração para o atual fenómeno Pôr do Sol.
Bonecos como Carlos Filinto Botelho (Carlos Pinto Coelho) ou Filipa Vasconcelos (Filipa Vacondeus), no programa Cozinho Para o Povo, sempre “com imensa paprica”, foram verdadeiras homenagens feitas em vida. Ovação de pé seja feita ao mestre.
O Tal Canal – 40 Anos > RTP1 > 19 out, qui 21h > O Tal Canal > RTP Memória > a partir de 20 out, sex, 15h45, reemissão seg-sex 15h45