Das mãos de Joana Barrios nunca veremos sair pratos complicados. Para esta alentejana de 35 anos, a alimentação é um dos seus grandes campos de estudo e trabalho, até porque cresceu dentro do restaurante dos pais em Montemor-o-Novo. N’O da Joana, programa que se estreia nesta segunda, 17, no 24Kitchen, a atriz do Teatro Praga e apresentadora vai manter a abordagem simples e irreverente que a caracteriza – e que o grande público já se habituou a ver nos programas de Cristina Ferreira.
Em entrevista à VISÃO Se7e, Joana Barrios fala do superpoder que é cozinhar, do reaproveitamento na hora de preparar as refeições e dos seus novos aventais.
Como surgiu a ideia de transformar o livro O da Joana, editado em outubro passado, num programa de televisão?
Eu e o Pedro Bravo, realizador do programa, já pensámos em várias formas de voltar a trabalhar juntos. Quando O da Joana saiu, o Pedro achou que seria ideal fazer um programa de receitas como os que adoramos, desde a Martha Stewart ao Cocktails With Khloé, passando pela Julia Child, pelo Manuel Luís Goucha ou pelas incontornáveis Maria de Lourdes Modesto e Filipa Vacondeus. Felizmente, houve um encontro de vontades entre nós e o 24Kitchen, que nos apresentou uma proposta que ia ao encontro deste nosso ideal de programa.
Falar sobre comida é muito diferente de falar de moda, como fez no magazine Armário, na RTP2?
A minha abordagem quer à moda, quer à alimentação é sempre acessível. De cada vez que abro uma destas caixas de Pandora, aquilo que quero é criar autoestradas de acesso, sem portagens, a matérias e temas que, de alguma forma, ainda me parecem inacessíveis ao público. Desde o Nhom Nhom [livro de receitas para bebés], sigo esse princípio base de que cozinhar é um superpoder do quotidiano que deve servir-se daquilo que se tem à mão, antes de complicar. As receitas que partilho no programa O da Joana seguem todas esse princípio: para se preparar uma boa refeição, não é preciso nada de exótico ou extravagante nem dominar técnicas especiais, e muito menos gastar muito dinheiro. O que desejo é que se ocupem as cozinhas com o intuito de comer bem, melhor, barato, não processado, sustentável… O da Joana é um livro pensado para que todos possamos cozinhar e desfrutar desta possibilidade. É simples, como eu. É o que comemos lá em casa.
“O que desejo é que se ocupem as cozinhas com o intuito de comer bem, melhor, barato, não processado, sustentável…”
Porque diz que “cozinhar é um superpoder”?
Enquanto ferramenta, é como falar inglês, saber matemática ou saber mudar o pneu do carro. Cozinhar permite escolher de forma mais consciente, criar uma alimentação que corresponde às nossas vontades. Permite fazer feliz, amar, criar laços, quebrar barreiras, permite a partilha, a troca, é uma arma de sedução, é a possibilidade de recordar, de fazer terapia… Como não ver isto tudo como um superpoder?
Quais são as características que definem a sua persona culinária?
Em 2017, com o lançamento do Nhom Nhom, passou a ser do domínio público que a alimentação é um dos meus grandes campos de estudo e trabalho, inevitavelmente, porque cresci dentro de um restaurante [dos pais, em Montemor-o-Novo]. Por outro lado, venho do universo das artes performativas, o que acaba por facilitar a criação dessa tal persona, que aparece e cozinha de verdade – em todos os estúdios por onde tenho passado com a Cristina Ferreira, as cozinhas funcionam mesmo, não há um prato preparado e escondido debaixo de uma bancada. A visibilidade da Cristina amplificou tudo isso a um público ao qual jamais imaginei chegar, que é muito carinhoso e me desafia e cativa muito.
Que género de receitas vai preparar?
As do livro O da Joana, o mais possível, com algumas inovações que vão sempre beber ao meu universo da cozinha simples e descomplicada, saborosa e consciente.
“Acho criminoso deitar comida fora, por isso uma sopa nunca acaba, um assado são mil outras vidas”
Todas têm na base a preocupação de reaproveitar o que há no frigorífico?
O reaproveitamento aprende-se cozinhando, experimentando. Todos os dias, sem folgas. Muitos pratos começam numa refeição mais especial e são desmultiplicados ou fragmentados noutros pratos. Eu faço isso em minha casa desde sempre, porque cozinho desde os 11, 12 anos e tenho essa prática. Acho criminoso deitar comida fora, por isso uma sopa nunca acaba, um assado são mil outras vidas.
É uma forma de lutar contra o desperdício alimentar?
Naturalmente, é preciso começar em casa. O reaproveitamento é uma forma de ativismo acessível, que pode ser praticado numa lógica diária. É essencial.
Criou uma linha de aventais para o programa…
Sim, com o intuito de colmatar a falta de aventais que existe no nosso mercado, daqueles que me apetece comprar, ter e usar, claro, que não sejam apenas utilitários. Estão disponíveis, desde há uns dias, no meu Instagram e site Armazéns Barrios. Agora, é dar conta do recado porque o processo é todo artesanal e tem uma escala muito pequena.
O da Joana > 24Kitchen > Estreia 17 mai, seg 15h > exibição seg-sex 15h > repetição 21h