Partir a bolacha muito fininha para uma sobremesa, deixar pudim de peixe agarrado à forma, dourar demasiado uma posta de bacalhau ou não acertar na temperatura do chocolate para a ganache, são, para Luísa Villar, “coisas que acontecem”. E não se escondem ou disfarçam. No programa MesaLuísa assumem-se e ultrapassam-se, tal como nas cozinhas de nossas casas.
Em dezembro do ano passado, Luísa, 60 anos, estava nervosa com a sua estreia à frente das câmaras. Mas as expectativas quanto ao programa de culinária foram superadas ao longo dos meses em que foram exibidos os 13 episódios. “Fiquei mais descansada com as mensagens que fui recebendo. Algumas pessoas dizem que gostam muito porque se sentem em casa, outras por causa das receitas, por serem feitas com produtos normais, outras porque têm a sensação de regressar à casa da avó”, conta. Luísa Villar reavivou uma série de pratos que estão presentes na memória dos espectadores, fazendo com que uns recuperassem o gosto de os fazer, outros começaram mesmo a cozinhar coisas que não faziam.
Nos 13 novos episódios (25 min.) desta segunda temporada, Luísa Villar continuará a consultar livros antigos, como Doces e Cozinhados (1925), de Isalita; O Livro de Pantagruel (1945), de Berta Rosa-Limpo; 100 Receitas sem carne, da poetisa Fernanda de Castro, escrito durante a II Guerra Mundial; e Culinária Portuguesa (1932), de Olleboma, pseudónimo de António Maria de Oliveira Bello, fundador da Sociedade Portuguesa de Gastronomia. Desta vez, junta-lhes mais uma preciosidade, enviada por correio por uma espectadora do Porto: Biblioteca Culinária, de Febrónia Mimoso, editado em 1929 pela Livraria Tavares Martins.

Ao saber que o seu programa foi bem acolhido entre o público infantil, Luísa não hesitou em fazer um episódio só com crianças convidadas. Com os seus sobrinhos-netos, entre os 6 e os 9 anos, preparou uma sanduíche de batata feita com o aproveitamento de carne. No fim, a baba de camelo foi feita pelas crianças.
Nesta segunda temporada, mantém-se o formato: primeiro, Luísa vai às compras ao Mercado da Ribeira, em Lisboa; depois, na sua cozinha, prepara as receitas; e, por fim, recebe os convidados para juntos, e à mesa, falarem de temas atuais e pertinentes. A alimentação saudável foi discutida com uma nutricionista e um médico; “o paladar educa-se” com as pediatras Margarida Lobo Antunes e Joana Appleton Figueira; sobre receitas regionais e de como os mesmos pratos são preparados de maneiras diferentes, falou com Maria João Abreu, João Baião e José Raposo, confecionando um arroz de polvo seco, uma receita do norte, e migas de chouriço e presunto.
Os regimes alimentares das várias religiões foram tema de conversa com a fadista Carminho e Isaac Assor, membro da Comunidade Judaica; Luísa aprendeu mais sobre food styling, a arte de enfeitar os pratos, com a fotógrafa Bárbara Tomaz que imprimiu o seu estilo num gelado de morango; e recordou as ementas de casamentos de há 40 anos, comparando-as com as de hoje.
As chefes portuguesas Justa Nobre e Marlene Vieira analisaram porque não têm as mulheres tantas Estrelas Michelin como os homens; Fortunato da Câmara, crítico gastronómico, e Nuno Bergonse, chefe de cozinha, debruçaram-se sobre a Dieta Mediterrânica. Abordou-se ainda a sátira na gastronomia pelos olhares irreverentes de Hugo Van der Ding e João Manzarra; e as características do povo português foram vistas à lupa por Ana Marques e Inês Lopes Gonçalves. Afinal, quem melhor do que nós consegue estar à mesa, a comer e a falar de comida?
MesaLuísa > Estreia 12 mai, qua 14h30 > Exibição qua 14h30, repetição qui 11h45, sáb 12h15 > SIC Mulher