Esqueçam-se de todos os palavrões que Ljubo já disse no horário nobre da televisão. Sabemos que o chefe de cozinha não tem papas na língua, é muito criativo e valoriza o trabalho em equipa, a organização e o método. Um líder que trata todos por igual. Coração na Boca foi concebido ao longo de dez anos em que gravaram um pouco de tudo, como conta Ljubomir Stanisic à VISÃO Se7e: “Os bons e os maus momentos, as vitórias, as derrotas, o lado mais bonito e o lado mais duro desta década, dentro e fora da cozinha. É a vida, basicamente.”
Figura mediática e telegénica, aos 42 anos – e depois de ter liderado o Movimento A Pão e Água, ter feito uma greve de fome e ter ganho a sua primeira estrela Michelin – Ljubo surge no “registo mais intimista” de sempre, a partir de uma ideia original de Mónica Franco, jornalista e sua mulher. “Acho que dificilmente poderia gravar algo assim com alguém que não a minha mulher. Embora seja sempre muito direto, um verdadeiro ‘coração na boca’, não gosto de me expor. Mas, confio inteiramente nela, no olhar dela, e a maioria das vezes esquecia-me até de que estávamos a gravar.”
Ao longo dos quatro episódios (25 minutos cada) da série, “o homem é indissociável do chefe de cozinha”, assume. “Muito do que sou enquanto pessoa está na forma como cozinho e vice-versa. A intensidade, o rigor, o prazer, a curiosidade ou a dureza são características que me marcam enquanto pessoa e enquanto cozinheiro e chefe de cozinha.”
Na primeira parte, intitulada O Que Sou, Ljubo conta como chegou a Portugal sem saber dizer uma única palavra em português – “nem as asneiras”, diz -, os lugares onde trabalhou, as histórias e as relações intempestivas com os chefes e colegas. Outro chefe, Hugo Nascimento lembra uma altura em que Ljubo foi seu superior e como “é dos gajos que dá mais confiança tirando-nos o tapete”. Depois de ter roubado sete cheques à irmã para ir a um stand comprar um Fiat Tipo, pois queria conhecer Portugal – Natasa Stanisic já lhe perdoou, mas obrigou-o a pagar a dívida – percebeu que tinha de se “fazer um homem”. Bateu à porta de Vítor Sobral e nunca mais parou.
Viajou por vários países do mundo trabalhando de borla em vários restaurantes só para aprender. Abriu o 100 Maneiras, em Cascais, e trabalhava 20 horas por dia. Do sucesso até à falência “em queda livre”, passaram cinco anos. Aprendeu a cair, a ficar sem amigos, sem nada. Mas reergueu-se no novo 100 Maneiras, no Bairro Alto, em Lisboa. Foi um dos primeiros chefes a servir um menu degustação, ainda por cima low cost: “O que faturava de noite dava para ir às compras no dia seguinte”, recorda. Reergueu-se e vingou na alta cozinha, que vista “por dentro, é fogo, temperaturas altíssimas, facas afiadas, muitas horas de pé, cortes, cicatrizes, queimaduras, bolhas”. Aprendeu a gostar de estar “no lodo da cozinha”, mas tem de ser um lodo controlado. Tentar encontrar o equilíbrio entre a ordem e o caos é o que lhe dá pica.
No segundo episódio, intitulado … De Onde Venho, viajamos com o chefe Ljubomir Stanisic até Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina, para conhecer e compreender as suas origens e o passado de guerra que tanto o marcaram. Seguem-se mais dois episódios, Por Onde Andei e Para Onde Vou.
Coração na Boca > Estreia 26 jan, ter > Opto/SIC