
A jornalista Conceição Lino, autora de “E Se Fosse Consigo?”
Basta cada um de nós colocar-se no lugar do outro e assim travar situações de preconceito, estigma, violência ou injustiça. A premissa até parece simples, mas desde a estreia de E Se Fosse Consigo?, na SIC, em 2016, que Conceição Lino não tem mãos a medir às cenas de indiferença com que já se deparou no seu programa.
Quando nos primeiros episódios foram abordados temas fracturantes como racismo, peso, bullying, homofobia, violência no namoro, maus-tratos a idosos, jovens e álcool e violência doméstica sobre mulheres poderíamos pensar que o leque de possibilidades estaria esgotado. “Já vamos para uma terceira série e continuamos a ter objeto de trabalho e sobretudo, infelizmente, verificamos que há muitas mais situações do que à partida poderíamos imaginar, que encerram receios por causa da forma como as pessoas se relacionam com elas e as consideram”, analisa Conceição Lino.
Os temas da primeira temporada e da segunda, que abriu com a violência doméstica contra os homens, “continuam absolutamente atuais. Temos notícias preocupantes para perceber que aquilo de que falámos há três anos continua a ser necessário abordar, chamar a atenção e sensibilizar as pessoas para essas realidades.”
A partir desta terça-feira, 14, sempre dentro do Jornal da Noite da SIC, os sete programas vão abordar assuntos diferentes, alguns que até se poderia pensar que já estavam “arrumados” pela sociedade. A discriminação contra uma pessoa com HIV que trabalha ao balcão num café abre a terceira série. “Há um grande desconhecimento e muitas dúvidas sobre as formas de transmissão do vírus, sobre o que é viver seropositivo. Como, felizmente, a medicina avançou muito parece que não é um problema. Mas é um problema para os doentes que são obrigados a tomar medicação para a vida toda e, além disso, a enfrentar o estigma. Há muitas pessoas que nunca fizeram o teste e, quando descobrem, já estão numa fase avançada da doença”, revela a jornalista.
Na semana seguinte, dia 21, E Se Fosse Consigo? entra no vasto mundo da doença mental, numa abordagem muito diferente do que costumam fazer, apesar de manter a câmara oculta. As pessoas entram de forma aleatória numa sala para responderem a um inquérito sobre doença mental, mas não sabem que estam a ser gravadas, por isso estão à vontade para falar de tudo. “Há uma vergonha imensa de quem sofre desse tipo de doença em falar disso e uma incompreensão muito grande por parte das outras pessoas. Há, de facto, uma diferença abissal entre as doenças físicas e as doenças de um órgão que é o cérebro, algo que até se reflete no próprio sistema de saúde. Muitos dos entrevistados queixam-se de que a psiquiatria e as doenças mentais são o parente pobre da medicina.” Num outro episódio, será simulada uma cena para ver até onde é que as pessoas conseguem ser solidárias com alguém que está a precisar de dinheiro para resolver um problema.
Conceição Lino não consegue medir, nem avaliar se os portugueses estão mais ou menos preconceituosos, até porque o foco do programa não é esse e a amostra das pessoas que se envolvem naquelas situações encenadas é aleatória. Nem tão-pouco garantir que num outro local, noutro dia e hora, as pessoas tivessem o mesmo tipo de reações. “O que continua a haver é uma indiferença muito grande e uma ausência de um mecanismo imediato que pare qualquer tipo de excesso e de forma desrespeitosa de tratar as pessoas. Sobrepõem-se o embaraço, o receio do que os outros vão dizer, em vez daquilo que é essencial: há situações que são intoleráveis e que devemos pará-las, e há muitas formas de o fazer sem corrermos riscos.”
E Se Fosse Consigo? > SIC > A partir 14 mai, ter 20h (dentro do Jornal da Noite)