Os santos no altar devem tentar compreender o que faz ali uma tela de projeção. Foi na Igreja St. George, dentro do Cemitério Inglês, em Lisboa, que se realizou o visionamento do primeiro episódio de The Young Pope. O mesmo cemitério onde os não católicos portugueses também eram enterrados antes do 25 de Abril e onde está sepultado o escritor britânico Henry Fielding, bem como vários combatentes ingleses da II Guerra Mundial. Que cantar e bater palmas dentro de uma igreja pode causar uma sensação de liberdade já sabíamos, mas a experiência de ver uma ficção, sentada num daqueles bancos corridos de madeira, também não lhe fica atrás. Ainda mais quando o cheiro tão característico das igrejas vai rondando todas as cenas, sempre com o ator Jude Law para a frente e para trás dentro da Basílica de São Pedro.
De vez em quando o Vaticano leva um abanão. E não estamos a falar dos abalos de terra sentidos, na semana passada, no centro de Itália. Depois do padre polaco Krzysztof Charamsa ter revelado a sua homossexualidade e lançado um livro onde diz que metade dos padres do Vaticano são homossexuais, chega agora a produção da Sky, HBO e Canal Plus, The Young Pope, para ajudar à festa. De que fala o argumento e realização de Paolo Sorrentino, o napolitano de A Grande Beleza, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro? Apresenta-nos Pio XIII, o primeiro Sumo Pontífice americano, e o mais jovem de sempre a liderar a Igreja Católica, com mil milhões de crentes, o que representa um quinto da população mundial.
Os dois primeiros episódios já tinham sido exibidos no Festival de Veneza, em setembro passado, e nessa altura o realizador rejeitou qualquer polémica intencional, admitindo que o Papa Pio XIII é uma antítese do Papa Francisco. “É possível que depois de um Papa muito liberal apareça alguém que tenha ideias diferentes. Acho que é uma ilusão a Igreja como uma ideia de longo prazo para a modernidade”, disse ao Hollywood Reporter. A série televisiva italiana mais cara de sempre, com um orçamento de 41 milhões de euros, tem já uma segunda temporada garantida.
Aos 43 anos, Jude Law veste a pele de Lenny Belardo, um Papa que fuma cigarros, calça Havaianas, aparece nu (de costas), bebe Coca-Cola zero com sabor a cereja e café de saco americano, faz malabarismo com laranjas e tem o poder de parar a chuva. “Ciao Roma, ciao mundo”, cumprimenta ele a multidão molhada na Praça de São Pedro. “Temos de estar em harmonia com Deus, mas temo-nos esquecido de nos masturbar, de usar contracetivos, de fazer abortos, de celebrar casamentos entre padres, de praticar a eutanásia, de nos divorciar, de usar a ciência para fazer bebés”. O discurso que para alguns seria de sonho, em The Young Pope é mesmo um sonho.
The Young Pope > TV Series > estreia 6 nov, dom 23h