A réplica de um esqueleto de dinossauro recebe o visitante logo à entrada do edifício que, aos poucos, vai mostrando o que há de vir a ser o Polo Central do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. O Laboratório Ferreira da Silva (1910), recentemente renovado, faz parte de um desses tesouros escondidos que, desde o dia 6 deste mês, está aberto a visitas. Neste lugar belíssimo, com um pé-direito de sete metros e escadaria dupla Art Déco, que foi sala de ensino e de investigação da Faculdade de Ciências no início do século XX, conta-se a História da Química em Portugal.
Olhando para as quatro grandes mesas-bancada de madeira originais, tampos em mármore com água e gás para os ensaios, e gavetas, onde se guardavam reagentes, cloretos e amostras minerais, imaginamos o químico e professor António Ferreira da Silva (1853-1923) a estudar minuciosamente o que lhe chegava às mãos, como falsificações alimentares, análises toxicológicas a águas ou do foro médico-legal. “Ele era muito metódico, tomava nota de tudo”, conta com entusiasmo a curadora dos instrumentos científicos, Marisa Monteiro.
Um dos seus casos mais mediáticos foi o crime da Rua das Flores (em 1890, envolveu o médico Urbino de Freitas no homicídio do sobrinho), considerada a primeira investigação médico-legal no nosso país, para a qual foram fundamentais as análises toxicológicas feitas pelo químico. Ao longo da visita, observam-se balanças, microscópios, funis, frascos, livros e o antigo cofre onde se guardavam os utensílios de platina, que são parte do espólio do primeiro Laboratório de Química Municipal, fundado anos antes, em 1884, por Ferreira da Silva.
Com esta abertura ao público, a Universidade do Porto pretende não só “a preservação dos objetos” mas também a criação de “um espaço vivido pela cidade, recuperando, por exemplo, os saraus científicos do século XIX”, refere Fátima Vieira, vice-reitora para a área da cultura.
O Laboratório Ferreira da Silva integra o roteiro patrimonial da História da Química em Portugal, juntamente com os laboratórios da Universidade de Coimbra (final séc. XVIII) e da Universidade de Lisboa (final séc. XIX).
Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto – Polo Central > Campo Mártires da Pátria, 81 (entrada pelo Jardim da Cordoaria), Porto > T. 22 040 8000 > ter-sex 10h-13h, 14h-18h (última entrada 17h30), sáb-dom 10h-13h > grátis
