Luísa Oliveira, Sandra Pinto, Sara Belo Luís, Sónia Calheiros e Susana Lopes Faustino
Lisboa: O nosso Se7e de 2018
Diana Tinoco
Foram 12 meses a escrever sobre novos restaurantes, lojas, bares, galerias e lugares que mudaram Lisboa em 2018. Eis os eleitos, agora que o ano chega ao fim
Luísa Oliveira, Sandra Pinto, Sara Belo Luís, Sónia Calheiros e Susana Lopes Faustino
Apetece passear entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia, com o bairro de Alfama e o rio Tejo ali a dois passos. A requalificação do Campo das Cebolas e das ruas adjacentes, segundo o projeto do arquiteto Carrilho da Graça, terminou em abril, depois de três anos de obras e de alguma polémica. Primeiro, foi o parque subterrâneo que deu que falar por causa dos vestígios arqueológicos encontrados, atrasando em muito a inauguração. Agora, há duas semanas, a atribuição do nome de José Saramago ao largo frontal à Casa dos Bicos também não reuniu consenso.
Controvérsias à parte, certo é que o Campo das Cebolas está transformado numa área de lazer, com passeios largos, novas esplanadas, zonas de estar e ainda um parque infantil para os miúdos brincarem. A mudança radical agradou aos restaurantes de comida tradicional que sempre ali estiveram, como O Fernando e O Solar dos Bicos, mas também chamou novos projetos: José Avillez foi o primeiro a instalar-se com a Cantina do Avillez; depois, o chefe João Sá inaugurou o SáLa, o seu primeiro restaurante; e, no mês de outubro, abriram a L’Éclair e o café Basílio, juntando-se à Benamôr, marca de cosmética portuguesa que, já no final de 2017, tinha escolhido o Campo das Cebolas para abrir uma loja.
LU.CA – Teatro Luís de Camões
Até ao dia da inauguração do LU.CA, a 1 de junho, Dia Mundial da Criança, poucos se recordavam do Teatro Luís de Camões, um edifício do século XVIII, na Calçada da Ajuda, antiga Casa da Ópera do rei D. João V (ainda antes da abertura do Teatro de São Carlos) e que, nos últimos anos, foi morada da coletividade cultural Belém Club. Totalmente renovado, tornou-se o primeiro teatro municipal direcionado para crianças e jovens.
Com uma programação regular e diversificada, acolhe espetáculos de teatro, dança, performance ou novo circo, e outras formas de expressão artística, como música, cinema, literatura, design, ilustração e artes plásticas, tudo selecionado a dedo e com um objetivo claro: pôr os mais novos a pensar sem perder o rasto à brincadeira.
LU.CA – Teatro Luís de Camões > Cç. da Ajuda, 76-80, Lisboa > T. 21 593 9100 > bilheteira: ter-dom 10h-13h, 14h-18h
Soão – Taberna Asiática
Começámos o ano em contagem decrescente para a abertura do Soão, mas já a primavera tinha chegado quando, a 26 de abril, a nova taberna asiática inaugurava no bairro de Alvalade, fugindo assim às zonas ditas da moda da cidade. Expectantes, pois havia um certo buzz à volta da inauguração, estávamos longe de imaginar ao que íamos. No restaurante do grupo Sea Me, a viagem é grande e fiel às origens, mas sem sair do lugar, de preferência nas salas privadas, no piso debaixo, a lembrar as ruas de Quioto, cheias dos tradicionais izakayas (tabernas).
Aqui não faltam os pratos mais emblemáticos de seis países da Ásia (China, Coreia, Índia, Japão, Tailândia e Vietname), como dim sum, bao, sushi, pho, caril, pad thai ou robata, tudo cheio de sabor e muitos aromas. Ainda bem que o chefe Luís Cardoso andou num périplo pelo Oriente à caça das melhores receitas e conseguiu afinar tão bem o pad thai, prato picante tailandês, um marco gastronómico em 2018. Av. de Roma, 100, Lisboa > T. 21 053 4499 > seg-sex 12h30-15h30, 19h30-23h, sex até 24h, sáb 12h30-24h, dom 12h30-23h
Toca da Raposa
Criatividade sem fim, apetece logo escrever quando pensamos em Constança Raposo, proprietária do bar Toca da Raposa, aberto neste verão. Para confecionar os cocktails com nomes de animais, a bartender trabalha ingredientes portugueses e pouco convencionais: flores, frutos (como a banana da Madeira) ou rebuçados Flocos de Neve.
“Colhemos e provamos tudo, só assim se descobre a que sabem as coisas e o que funciona”, explica. Até ao final deste mês, há uma ementa especial, inspirada nos sabores do Natal, como o cocktail Peru, feito com licor de bolotas apanhadas na Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo, no qual Constança Cordeiro junta a laranja e o brandy.
R. da Condessa, 45, Lisboa > ter-dom 18h-2h
Costa Nova
Abriu quase no final do ano, em meados de novembro, já com os olhos postos no Natal – e, quadra festiva à parte, no crescimento do mercado dos hotéis e dos restaurantes lisboetas. A nova loja da portuguesíssima Costa Nova, fundada em 2006, na vila de Vagos, concelho de Aveiro, tem o mérito de funcionar como cartão de visita do grés fino, que faz uma mesa bem-posta, sem precisar de se recorrer a pratas e a porcelanas.
Na Rua Castilho, estão expostas quase todas as coleções da marca que sempre apostou (e continuará a apostar, segundo garantem os responsáveis) na exportação: da Pearl (Pearl, Pearl Aqua e, mesmo a pensar no Natal, Pearl Rubi) à Riviera (desenhada pelo criador floral francês Christian Tortu, numa sucessão de azuis e de verdes deslumbrantes). Ao fundo, a loja dispõe ainda de uma bonita cozinha onde, em breve, vão realizar-se workshops e showcookings, para (literalmente) pôr as mãos na massa e no grés fino. R. Castilho, 69, Lj. Esq., Lisboa > T. 21 099 1777 > seg-sáb 10h-14h, 15h-19h (em dezembro, abre também ao domingo)
Padaria da Esquina
Ao fim de quase um ano de espera, as especialidades do mestre padeiro Mário Rolando chegaram finalmente à Padaria da Esquina, do chefe Vítor Sobral. A loja abriu em julho, em Campo de Ourique, e já nesta semana inaugurou uma segunda padaria no Mercado de Alvalade Norte, fica a notícia. Mário Rolando é, nesta matéria, um purista. À farinha, à água e ao sal junta a massa-mãe, um fermento natural que respeita a verdadeira essência deste produto cozido em forno de laje.
“Não copiamos. Este pão é só nosso. Chegamos a estas misturas preservando técnicas, processos antigos, respeitando as etapas e escolhendo as melhores matérias-primas”, disse à VISÃO Se7e. Na montra há broa de milho, pão branco de cabeça, escuro, redondo, rústico, alentejano e de triga-milho. E ainda bolas de Berlim, pães de deus, bolos de arroz, entre outras variedades de pastelaria, recuperando bolos quase esquecidos, como o sidónio, feito de amêndoa, açúcar e ovos. R. Coelho da Rocha, 108, Lisboa > T. 21 419 3143 > ter-dom 8h-20h30
Bicicletas partilhadas
Primeiro refilou-se porque as estações das GIRA roubavam espaço aos carros. Depois, voltou-se a refilar – os automobilistas e os peões tiveram de se habituar ao constante vaivém em duas rodas, essencialmente deslizando pelas ciclovias. É que este foi, sem dúvida, o ano em que as bicicletas partilhadas se tornaram uma realidade em Lisboa. E os lamentos amainaram. Em setembro, já se contabilizavam 700 mil viagens nos veículos que a EMEL pôs à disposição dos habitantes da cidade, a troco de um aluguer que varia consoante as necessidades (passes diários, mensais e anuais).
Há modelos tradicionais e elétricos – estes últimos fazem mais furor porque ajudam realmente a galgar as subidas da capital. Mais perto do final de 2018, e a reboque desta mobilidade partilhada que se aciona através de uma aplicação de telemóvel, apareceram as trotinetas. Mas em relação a estes acelerados veículos, que se estacionam sem rei nem roque, o refilanço teima em não acabar.