Em 1974, Patty Hearst foi raptada pelo Exército Simbionês de Libertação, um grupo violento dos EUA, responsável por múltiplos homicídios e assaltos a bancos. Depois de ser raptada, Hearst foi coagida pelos raptores, que extorquiram mais de dois milhões de dólares ao seu pai e a obrigaram a participar em, pelo menos, dois assaltos do seu grupo. Ao longo deste processo de lavagem cerebral, Hearst acabou por mudar o seu nome para “Tania” e por se juntar definitivamente ao grupo. Passados alguns anos, foi presa pela sua participação em vários assaltos e por porte de armas. Um ano antes do rapto de Patty Hearst, tinha sido inventado o termo “Síndrome de Estocolmo.” O percurso desta mulher parece ser um exemplo vivo desta condição.
A Síndrome de Estocolmo é frequentemente ligada a casos de raptos e sequestros. O caso paradigmático utilizado para retratar esta síndrome é o homem ou mulher que se apaixona ou se apega à pessoa que o/a rapta, sem ter plena consciência disso e agindo contra os seus próprios interesses. No entanto, a verdadeira história que deu origem a esta síndrome é muitas vezes esquecida e leva a um entendimento errado da Síndrome de Estocolmo, como explica Matthew Syed à BBC Radio.
Tudo começou em Estocolmo, no dia 23 de agosto de 1973. Jan-Erik Olsson entrou num banco, tirou a sua arma e sequestrou quatro funcionários dinstituição. De seguida, exigiu um carro para a sua fuga, assim como dinheiro e a libertação de um cúmplice seu da prisão, para se juntar a ele no banco. Mais tarde, perante a quantidade de polícias armados que começaram a rodear o edifício, Olsson e o seu parceiro decidiram levar os quatro reféns para dentro do cofre forte para se protegerem – até que um dos polícias entrou no banco e trancou o cofre por fora, prendendo o criminoso e os reféns lá dentro.
Foi precisamente depois de os criminosos e os reféns estarem trancados no cofre que os acontecimentos estranhos se começam a desenrolar. Dentro do cofre, uma das reféns, Kristin Enmark, ligou ao primeiro-ministro da Suécia e implorou que os seus próprios raptores fossem libertados. De forma ainda mais bizarra, a mulher afirmava que queria mesmo sair do banco com os seus raptores. O primeiro-ministro recusou este estranho pedido e a polícia preparou-se para entrar no cofre e libertar os reféns.
Perante a iminente entrada da polícia, os criminosos concordaram em sair – até que os seus reféns se ofereceram para serem “escudos humanos”, de forma a impedir que os raptores fossem alvejados – uma decisão chocante para todos os polícias que pretendiam salvar a vida aos quatro reféns. Mais tarde, estes mesmos reféns recusaram-se a testemunhar contra Olsson em tribunal, assim como a angariar dinheiro para a sua própria defesa. Parecia que os reféns tinham perdido completamente a cabeça, ao colocarem-se dos lados dos raptores e não da polícia que os queria salvar. Foi assim que esta resposta bizarra passou a ser conhecida como Síndrome de Estocolmo.
No entanto, se olharmos com maior detalhe para esta história, compreendemos que o caso não é tão simples como um simples “apego da vítima ao raptor”. Na verdade, Enmark tinha razões para acreditar que tinha maiores probabilidades de morrer num tiroteio entre a polícia e os criminosos, na saída do cofre, do que ser morta pelos próprios raptores. Por isso, ao proteger os criminosos, estava a agir de acordo com o seu próprio interesse – não estava iludida nem apaixonada por Olsson e respetivo parceiro.
É por esta razão que muitos peritos se mantêm céticos a esta classificação romantizada da Síndrome de Estocolmo, do amor entre o raptor e o refém. Frequentemente utilizada no nosso quotidiano para apelidar estranhos casos de apego da vítima ao agressor, a atual perceção da Síndrome de Estocolmo parece estar mais ligada a uma culpabilização da vítima do que a sua história original pretendeu mostrar. Na verdade, a Síndrome nunca foi considerada oficialmente como uma doença psiquiátrica e, em 1989, um inquérito do FBI que recolheu os dados de 600 agências da polícia não registou um único caso de raptos onde a relação emocional entre a vítima e o raptor tivesse afetado a operação de resgate, verificando que se tratava de um caso extremamente raro.