
A Casa Hintze Ribeiro ocupa um antigo armazém comercial, convertido agora em hotel com 22 apartamentos
Nick Bayntun
1. Casa Hintze Ribeiro
Tem categoria de hotel de charme, mas Joaquim Neves, o proprietário, preferiu chamar-lhe casa, a pensar em quem procura um atendimento personalizado e ambiente familiar. Na Casa Hintze Ribeiro, que toma o nome da rua onde nasceu o político açoriano, há 22 apartamentos (T0 e T1) à disposição, todos com kitchenette e alguns com varanda generosa. A beleza natural e as cores dos Açores, bem como algumas figuras da história de S. Miguel, serviram de inspiração à designer de interiores Nini Andrade Silva, a quem coube a decoração.
Mesmo a convidar quem passa é a zona da entrada, com mesas e sofás de ar confortável para se estar, e ainda o bar, com refeições ligeiras. O chão e arcos em pedra deste armazém comercial fechado há muito foram mantidos, contrastando agora com os azulejos na parede e balcão da receção, ou com o painel verde das pastagens no teto. Logo ali ao lado, está a biblioteca com livros que podem levar-se para os quartos, decorados em tons de azul e branco e com poemas de Antero de Quental e Natália Correia. Em dias de sol, é aproveitar o terraço com um pequeno jardim e piscina (adulto e criança). R. Hintze Ribeiro, 62 > T. 296 304 340 > a partir de €89

O ateliê e loja da designer de moda Sara França é também uma montra para dar a conhecer outras marcas
Hugo França
2. O Estúdio – Atelier & Shop
Não encontrámos Sara França sentada à máquina de costura, mas de modelagem, corte e cose percebe ela. Sara, 28 anos, é designer de moda, com coleção à venda no Porto e em Lisboa, onde estudou e viveu até ao ano passado, altura em que decidiu regressar a “casa”. “Já tinha tido as minhas peças à venda cá, numa loja temporária, e correu muito bem. Agora, quero internacionalizar a marca e este é um bom ponto de partida para o fazer”, diz. Na sua loja, que é também atelier de trabalho, estão casacos em tweed, saias de godés, vestidos, camiseiros de seda e túnicas em crepe – tudo em modelos únicos, que se ajustam depois à medida de cada corpo. No entretanto, criou uma linha de ponchos e capas, e pôs-se a desenhar sapatos e malas – estas executadas à mão por Fábio Oliveira, que já trabalhava a pele em carteiras, sandálias e pulseiras com a marca Pele e Osso, ali à venda. É que a este Estúdio são também bem-vindos outros projetos – como os brincos, colares e anéis da Subt’l, uma marca de acessórios de dois arquitetos açorianos que, tal como Sara, decidiram voltar. R. D’Água, 33 > T. 91 897 8558 > seg-sex 11h-19h, sáb 11h-14h

Ricardo Nogueira mudou-se para Ponta Delgada e apostou numa banca de sanduíches e sumos naturais, no Mercado da Graça. “Encontrei o paraíso”, diz
3. Sabores Local Food – banca de comida
Sexta e sábado são os dias mais movimentados no Mercado da Graça. Vai-se às compras para a semana – a carne e o peixe, os verdes, o inhame e a batata-doce, a Pimenta da Terra e a açafroa para o molho vilão, os inebriantes ananases, a banana e outras frutas “regionais” (porque não chegam de avião), o bolo lêvedo e o pão caseiro, e ainda as flores para a casa. No Rei dos Queijos, são mais de 30 as variedades – escolha-se o de São João do Pico, os artesanais da Fajãzinha, nas Flores, o amanteigado de pasta mole da ilha do Faial ou o de São Jorge cura ano e meio, e “olhe que vai bem servida, sim senhora”.

A dar uso a todos estes ingredientes em sanduíches e sumos naturais está, numa das bancas, Ricardo Nogueira. Nasceu em Leiria, estudou engenharia civil em Coimbra, onde se apaixonou por uma açoriana, e fez desta mudança uma oportunidade. O curso de cozinha na Escola de Hotelaria e a experiência em restauração ajudaram a concretizar a Sabores Local Food. “O grande desafio é fazer diferente todos os dias”, diz, enquanto vai mostrando outras iguarias da terra – pé de torresmo (a pasta que resta da feitura dos torresmos e se barra no pão), ovos de codorniz em vinagre ou a cebola de curtume. Há sempre uma sanduíche especial e uma versão vegetariana, já o chá verde da Gorreana com ananás fresco e limão galego pode fazer a vez do sumo de fruta. As queijadinhas de leite servem de sobremesa e seja tempo da meloa de Santa Maria, cor de laranja por dentro, é comê-la, cortada em pedaços, ali mesmo. Mercado da Graça > R. do Mercado > seg-qui 7h-18h, sex até 19h, sáb até 14h

Inaugurado em setembro, o Núcleo de Santo André do Museu Carlos Machado guarda uma importante coleção de História Natural
4. Núcleo de Santo André do Museu Carlos Machado
É de bichos, plantas e minerais que aqui se fala e arriscamos dizer que esta é coleção de fazer inveja a qualquer museu de história natural tal é a variedade de espécies de mamíferos, peixes, aves, felinos, invertebrados, rochas e plantas dos Açores, mas também do mundo inteiro. O interesse de muitos naturalistas pelas ilhas em meados do século XIX, a par das campanhas oceanográficas do rei D. Carlos e do príncipe Alberto do Mónaco, haveria de entusiasmar Carlos Machado, reitor do antigo Liceu Nacional de Ponta Delgada e professor de história natural, que fundou, em 1880, o Museu Açoreano para mostrar a coleção então reunida. Foi depois sendo enriquecida com o apoio de gente prestigiada da terra e o contributo de muitos naturalistas, e, em 1914, o museu passou a designar-se Carlos Machado, em homenagem ao fundador.
A coleção esteve guardada durante dez anos, tantos quantos duraram as obras de requalificação do antigo Convento de Santo André, reaberto ao público em setembro último. Além da coleção de história natural, foi desenhado um segundo circuito expositivo a mostrar a igreja, os coros alto e baixo, os parlatórios, a antiga portaria e os claustros do convento. Convento de Santo André > R. Guilherme Poças > T. 296 202 930 > ter-dom 9h30-17h30 > €2
No Andar de Cima abre aos fins de semana para pequenos-almoços e à sexta-feira para festas de final de tarde
5. No Andar de Cima
Quando Catarina Ferreira trocou Aveiro por Ponta Delgada, já lá vão dez anos, pôs-se a pensar no que lhe fazia falta na cidade. Não havia muitos sítios onde ir, era um facto, e faltavam lugares com alma e identidade. Sem nunca deixar a profissão de educadora de infância, foi assim que, por essa altura, abriu o restaurante vegetariano Rotas. Há cerca de ano e meio, devolveu o Louvre Michaelense à cidade e agora abalançou-se para o Andar de Cima. “Não havia um sítio bom para tomar o pequeno-almoço, sobretudo ao domingo, em que fecha tudo”, diz.
Inaugurado em maio, a este No Andar de Cima não lhe falta a patine de casa antiga – chão de tábua corrida, tetos altos e trabalhados, janelas generosas. Abre ao fim de semana de manhã para os pequenos-almoços buffet, com pães variados e croissants, queijos e salmão, cereais, laranjas para sumo, iogurte, compotas e bolo caseiro. À sexta-feira, organizam-se as festas Lusco Fusco, um final de tarde a durar entre as 17 horas e as 20 horas, com música e um menu de tapas e bebidas. Da agenda constam também workshops e, em breve, vai ali abrir a La Bamba Record Store, uma loja de vinis e gira-discos. R. António José d’Almeida, 10 > T. 93 834 6886 > sex 17h-20h, sáb-dom 9h-13h

A Casa das Palmeiras foi de João Augusto Carreiro, que ali viveu com a família e tinha negócio no rés do chão – os Armazéns Carreiro vendiam sedas e porcelanas de Paris, ourivesaria portuguesa ou veludos provenientes de Inglaterra. A loja vai ser dada à consignação para bar ou restaurante
João Ferreira
6. Casa das Palmeiras – Charming House
Tem o charme das casas do início do século XX, com azulejos Arte Nova, varandins de madeira, torre mirante, jardim, pé-direito muito alto e uma bonita escadaria interior. Vista agora, é difícil imaginar o estado de degradação a que chegou, depois de ter estado mais de 30 anos fechada, a exigir “trabalho minucioso quando decidimos transformá-la em alojamento local”, conta Raquel Guimarães, uma das proprietárias.

João Ferreira
A Casa das Palmeiras abriu discretamente em setembro, com dez quartos à disposição, divididos pelos dois pisos superiores. Têm nome de plantas endémicas e, escolhendo-se entre a Uva da Serra, o Cedro do Mato ou o Pau Branco, tem-se uma cama extra (também há dois quartos comunicantes, a pensar nas famílias maiores). Na sala do rés do chão serve-se o pequeno-almoço, com horário alargado, e, a pedido, podem tratar do almoço ou do jantar. Há sempre café, chá e águas aromatizadas, e o atendimento, que se quer atencioso, inclui sugestões que não vêm nos guias turísticos, marcação de passeios, informação da agenda de espetáculos e até a preparação de uma cesta de piquenique para levar no passeio. R. Diário dos Açores, 26 > T. 296 709 903 > a partir de €75 (quarto duplo)
O Louvre Michaelense já foi loja de luxo, era lá que se vendiam chapéus e tecidos vindos de Paris. Foi devolvido à cidade por Catarina Ferreira, que ali abriu uma mercearia “à antiga”, onde os clientes podem escolher um chá e ir à cozinha prepará-lo
7. Louvre Michaelense
“Pedimos desculpa pela invasão”, dissemos quando, maravilhados a olhar em redor, demos por nós já na cozinha. “Esteja à-vontade”, respondeu-nos Catarina Ferreira, resumindo logo ali o espírito desta mercearia aberta há quase ano e meio numa antiga loja de chapéus e tecidos importados de Paris. “Estava em muito mau estado”, conta a educadora de infância a viver em São Miguel já lá vão dez anos. Recuperaram-se as prateleiras em pinho resinoso, o chão, o balcão e ainda as letras de tabique e gesso com o nome da casa fundada por Duarte Cardoso em 1904. Com a reabertura do Louvre Michaelense, Catarina devolveu também um pedaço de história à cidade. Naquelas montras expôs, pela primeira vez, o pintor açoriano Domingos Rebelo, que se tornou mais tarde uma referência nas artes. A ideia é que as pessoas circulem, mesmo para lá do grande balcão, “e que se sirvam”, explica. Das prateleiras e gavetas tratou Catarina de as encher com chás, cafés, conservas, vinhos, rebuçados Bolas de Neve e chocolates Regina, mel e compotas, dando lugar também aos trabalhos de artistas locais – cerâmicas, os presépios da Lapinha, malas, agendas e blocos de notas. Criou ainda as linhas Louvre e Avó Catita, que têm caixas que juntam produtos açorianos, cadernos, livros de histórias para crianças, canecas e postais para levar como lembrança. E porque a comida “ajuda a aproximar-nos”, também ali é possível tomar um chá com uma fatia de bolo, beber um copo de vinho, provar bolachinhas caseiras, tartes salgadas ou a massa sovada feita no dia. Só tem que se servir, como em casa. R. António José d’Almeida, 8 > T. 93 834 6886 > seg-dom 10h-20h

A galeria Miolo faz parte d’O Quarteirão, um projeto que junta cafés, hotéis, restaurantes, lojas, galerias e ateliers de forma a atrair mais gente a esta zona da cidade
8. Miolo
Tem escala micro, esta galeria, livraria e editora que ocupa uma antiga garagem, onde em tempos funcionou a oficina de reparação de órgãos e tubos do conhecido mestre Dinarte Machado. O sítio, aberto e de porta escancarada a mostrar tudo que está lá dentro, agradou a Vítor Marques da Cunha e a Mário Roberto, que em janeiro inauguravam a Miolo dedicada à imagem impressa. Serigrafia, gravura, ilustração e, sobretudo, fotografia, que se mostra através de exposições temporárias, mas também nos livros e várias publicações alternativas que ali têm à venda – o jornal-almanaque Postas de Pescadas, as impressões tipográficas do Papeleiro Doido, as serigrafias da Oficina Arara ou as agendas de Júlia Garcia, impressas na Tipografia Micaelense (que vale bem a visita, diga-se). A Vítor e a Mário, interessam os processos de impressão mais alternativos e, até para alimentar a editora, deram início a pequenas formações, como as oficinas de goma cromada e cianotipia que já ali decorreram. Acrescente-se ainda que os dois são os dinamizadores de O Quarteirão, um projeto que junta cafés, hotéis, restaurantes, lojas, galerias e ateliers de forma a atrair mais gente a este “bairro”, a norte da Rua Machado dos Santos, com epicentro na praça comunitária construída este verão na Travessa da Rua D’Agôa. R. Pedro Homem, 45 > T. 91 319 3716 > seg-sex 10h-18h, sáb 10h-13h

À sexta-feira e ao sábado há música ao vivo no Raiz Bar
Paulo Goulart Photography
9. Raiz Bar
A Igreja Matriz de São Sebastião fica mesmo em frente, e logo ali adiante estão as Portas da Cidade. Não tem nada que enganar, portanto, o caminho a fazer para aqui chegar. Aberto em julho por Gonçalo Veloso e Gabriel Pereira, ambos de Lisboa, o Raiz Bar já caiu no goto de quem sai à noite. Aqui ouve-se boa música, que é como quem diz, nada do género comercial. Às sextas e sábados, a partir das 22 horas, há concertos de bandas portuguesas – blues, jazz, rock, folk, sonoridades africanas, tudo cabe naquele palco, desde que as canções sejam originais. Depois segue o DJ e, se não quiser dançar, há muito espaço por onde circular neste primeiro andar – duas salas, um mezanino e até um terraço. R. António José D’Almeida, 6 > T. 96 691 9410 > qua-qui 22h-3h, sex-sáb até 6h

Aberto em fevereiro, o Taberna Bay aposta na cozinha tradicional açoriana
10. Taberna Bay
Álvaro Lopes e Paulo Mota, dois chefes já com longa carreira na cozinha de hotéis de referência em São Miguel, já partilhavam o gosto pelos produtos e pela culinária mais popular dos Açores. Por isso, os dois amigos não hesitaram quando surgiu a oportunidade de ter um restaurante, concretizada em fevereiro deste ano. A Taberna Bay, em frente à baía de São Roque, logo depois da marina e do porto de cruzeiros, tem esplanada que convida a finais de tarde à volta de umas lapas, chicharros de escabeche, pé de torresmo, camarão à Ilhéu ou de umas favas-ricas à Vargalho – tudo acompanhado com vinho de produção local ou de uma cerveja Especial. Ao almoço, a ementa faz-se com o peixe apanhado durante a noite e que chega de manhã cedo – servido grelhado, para não estragar –, ou com o bacalhau frito com molho vilão (uma espécie de escabeche com alho, vinagre, pimenta da terra e açafroa). A galinha do campo é feita à moda da avó, estufada com vinho tinto e muita cebola, enquanto no chambão das Caldeiras com puré de batata-doce só entra carne da raça Angus vinda do Pico. Ao jantar, a refeição pode ser mais completa, optando-se pelo menu escolha do chefe a incluir arroz de lapas ou um tataki de atum. A não perder é o leite-creme ou as queijadas de limão galego, uma variedade que só se encontra por aqui. Av. do Mar, São Roque > T. 296 382 439 / 91 719 2256 > seg-dom 11h-22h30

O Azor Hotel, em frente à marina de Ponta Delgada, tem uma piscina e bar panorâmico no último andar
Nick Bayntun
11. Azor Hotel
Fica nas Portas do Mar, nome para o empreendimento com assinatura do arquiteto Manuel Salgado que inclui a marina, o terminal de cruzeiros, lojas, bares, restaurantes e a Escola de Formação Turística e Hoteleira. No Azor Hotel, a vista para o Atlântico é garantida, escolha-se qualquer um dos 123 quartos (standard ou suíte) deste cinco estrelas aberto em maio e que tem decoração assinada por Nini Andrade Silva.
No restaurante À Terra são os grelhados, as pizzas e assados no forno de lenha que vão à mesa, enquanto no Lobby Market provam-se vinhos portugueses acompanhados por uma seleção de queijos açorianos, e ainda gelados e doces feitos com ingredientes locais. Para ir à piscina exterior panorâmica, é subir ao sétimo andar, onde fica também o bar, com cocktails e refeições ligeiras. Este é o segundo hotel em São Miguel do grupo Discovery Hotel Management (que tem também duas unidades no Algarve), depois de ter inaugurado, em março do ano passado, o Furnas Boutique Hotel nestas antigas termas. Av. Dr. João Bosco Mota Amaral > T. 296 249 900 > a partir de €100 (quarto duplo)
O Pedras do Mar Resort & Spa, fora do centro de Ponta Delgada, faz-se valer da sua localização, em frente ao mar