
Diz o dicionário Priberam que ferragial é “um campo onde se cultivam cereais, ceifados verdes, antes de espigar, para o pasto dos animais”. Faz sentido quando mais tarde se descobre que no século XVI existia um bairro chamado Ferragial, logo abaixo da Rua Vítor Córdon, onde tinha havido umas pastagens.
Até ao final do século XIX, a Travessa do Ferragial era conhecida como o Beco da Linheira, provavelmente porque ali moraria uma mulher que preparava ou vendia linho. Mas essa é outra história e hoje dá mais gozo fixarmo-nos na ideia de campo e na olaia plantada a meio das escadinhas que dão início à travessa, a sua copa a ir de um prédio ao outro sem esforço.
A árvore está por estes dias verde de meter inveja aos loendros que a rodeiam. No verão, ela não tem flores, já se sabe, e flores é coisa que não falta aos arbustos que sobrevivem a tudo nas auto-estradas. E, no entanto, suspiramos de prazer ao vê–la porque dá uma sombra que sabe bem quando se desce do Chiado em direção ao Largo do Corpo Santo sob um sol desumano.
Na primavera, tome-se nota, é todo um outro filme: a olaia cobre-se de flores cor-de-rosa que nascem diretamente dos ramos nus. Não serve de guarda-sol mas enche o olho como nunca.