1. Quatro Contos Consonantes, de Margaret Atwood
Por entre as suas distopias protagonizadas por servas em luta contra o patriarcado, a escritora canadiana criou uns oásis literários graciosos e galhofeiros para os leitores mais novos. São histórias com princesas pretensiosas, vegetais temperamentais, bichos falantes, órfãs atreitas a vendavais e outras peripécias que tais, perfeitas para serem lidas em voz alta – Atwood usa, aqui, uma toada constante de aliterações. Publicado pela primeira vez em Portugal, Quatro Contos Consonantes, ilustrado por Sebastião Peixoto, inclui Carlitos Constrangido e Deolinda Desgostosa (sobre vizinhos que superam dificuldades), Princesa Prunela e a espinha púrpura (uma menina cuja vaidade é um ponto fraco), Raimundo Refilão e os rabanetes rugidores (uma alegoria sobre a Natureza) e Vanda Vivaça e a lavandaria vertiginosa da viúva Venteira (uma história de enganos). Ponto de Fuga > 184 págs. > €14,40
2. A Comichão, de Eleonora Marton
Obra divertidíssima que joga com a capacidade de abstração, empatia e imaginação dos seus leitores, A Comichão faz-nos olhar para páginas cor de pele vazias; ou quase, porque, aqui, o texto é que é a ilustração. Nada mais do que uma ou duas palavras que vão andando pelo vazio, dando ordens de comando: “pra cima”, “mais para cima”, “pra direita”, até chegar a um enfático “isso”. Mas a simplicidade deste primeiro livro da autora publicado em português é enganadora: há muitos tipos de comichão, há diferentes leituras possíveis. Fala-se da coceira no nariz ou é um quiz mental? Será um mapa para chegar a um sítio? E a que sítio? Pato Lógico > 32 págs. > €13,50
3. O Porquinho de Natal, de J. K. Rowling
Potter: um rapazinho que perdeu a família, um caminho espinhoso de iniciação, um fiel amigo que se sacrifica, uma aventura por terras mágicas. Em O Porquinho de Natal, Jack tem 8 anos, perdeu o pai e o seu brinquedo de estimação, DuPouco, mais conhecido como DP – que foi atirado fora por culpa da meia-irmã. Na véspera de Natal, o “Avivamento” faz as coisas inanimadas ganharem vida, incluindo o boneco que substituiu DP. Aqui começa uma caminhada a dois pelo purgatório da Terra dos Perdidos e outras regiões pouco banais para salvar um velho amigo…Editorial Presença > 295 págs. > €17,90
4. Pardalita, de Joana Estrela
Raquel, uma adolescente que vive com a mãe, uma progressista com forte consciência social que salva animais, acredita em manifestações e indigna-se com as tragédias dos migrantes, está num processo de autodescoberta: “E se for?”, questiona-se a adolescente, sentindo que “a secundária é um aquário”. A pergunta diz respeito à sua orientação sexual, de que ela não fala nem com a amiga de infância, a exuberante Luísa. Pardalita, belíssima novela gráfica a preto-e-branco, cheia de elipses e delicadezas, é um diário da sua busca pela identidade: a relação com os amigos, a vida nos corredores do liceu da cidade pequena, a experiência libertadora no clube de teatro, a subtil aproximação com a pardalita do título. Planeta Tangerina > 244 págs. > €18,90
5. Verde É a Cor do Natal, de Drew Daywalt (texto) e Oliver Jeffers (ilustrações)
Os expressivos lápis de cor desenhados por Oliver Jeffers voltam a reivindicar os seus direitos. De dedo no ar, o lápis verdinho reclama que Verde É a Cor do Natal, e apresenta provas: o azevinho é verde. Mas o lápis vermelho trata de recordá-lo de que as bengalas doces têm a sua cor. O verde riposta que os pinheiros de Natal são… verdes. O outro não se fica: o Pai Natal tem um fato vermelho. Mas os outros lápis também têm algo a dizer: o branco, farto de ser esquecido, argumenta que a sua é a cor da neve e dos marshmallows; o prata acha-se indispensável; o castanho declara que as renas e o trenó são do seu tom… e a confusão instala-se. O espírito solidário chega, quando todos concordam que o verdadeiro Natal é estarem juntos. Nuvem de Letras > 32 págs. > €12,90
6. Obrigado, Miyuki!, de Roxane Marie Galliez (texto) e Seng Soun Ratanavanh (ilustrações)
Regressa a menina curiosa do já publicado Espera, Miyuki, em mais uma aventura dedicada a descobrir a beleza das pequenas coisas do mundo. Neste Obrigado, Miyuki, ela quer perceber melhor o que faz o seu avô, de sorriso nos lábios, levantar-se para “saudar o vento” ainda com “orvalho malva, cacimba sobre os campos”. O ancião “cuida de si”, entrega-se ao ritual do tai chi, aninhado por entre as flores de lótus gigantes, os padrões coloridos, os céus azuis e jardins luxuriantes desenhados por Seng Soun Ratanavanh, que brincam com a escala e a cor. Iniciam então uma jornada para descobrir, juntos, o que é a meditação. Miyuki, inquieta, questiona constantemente: “Quando é que começamos a meditar, Avô?” Ele nada responde, acompanhando-a num carreiro de pedrinhas que sente rolar sob os sapatos, contemplando as águas do rio ou vendo as nuvens, deitados na relva fresca e sentindo a chuva no rosto… Um livro encantador que ensina a estar simplesmente no presente. Orfeu Negro > 32 págs. > €14,50
7. Floco de Neve, de Benji Davies
O que têm em comum uma menina e um floco de neve? Nesta fábula de Benji Davies, autor de prosa terna expressa em frases muito simples, os seus caminhos correm lado a lado, sem que ambos o saibam, ao longo de páginas com grandes planos coloridos da cidade. O floquinho estreia-se a cair das nuvens, renitente, assustado e sem saber para onde vai, onde aterrar e o que fazer – sente que lhe falta um sentido. Noelle inspira-se numa árvore de Natal vista numa montra, quando passeia com o seu avô pelas ruas decoradas, e cria o seu próprio pinheirinho – mas acha que lhe falta uma estrela no topo. No fim de Floco de Neve, do encontro entre o céu e a terra, vai produzir-se magia. Orfeu Negro > 40 págs. > €14,90
8. Juntos, de Luke Adam Hawker
Ao longo da (longa) pandemia, várias obras contemplaram as realidades e os medos por esta provocados. Juntos merece luz na biblioteca de miúdos e graúdos: o texto esparso de Marianne Laidlaw, traduzido por Valter Hugo Mãe, usa a metáfora da tempestade para abordar a Covid-19, o confinamento, o isolamento das pessoas, o voluntarismo dos profissionais de saúde, as palmas nas varandas, as pequenas felicidades encontradas no quotidiano. Mas as ilustrações a preto-e-branco, desenhadas por fino lápis, é que nos arrebatam: seguimos um idoso e o seu cão, a andarem à chuva, sós em casa ou a caminharem na floresta, a surpreenderem-se com os vizinhos. Sempre unidos. Porto Editora > 64 págs. > €16,60
9. Podia Ser Pior, de Einat Tsarfati (texto e ilustração)
Quais são as diferenças entre um pessimista e um otimista, quando todos os acidentes lhes caem em cima? Dois marinheiros à deriva, após o naufrágio do seu navio, demonstram os pontos fortes e fracos dessa diferença de atitudes: eles enfrentam sereias irritantes, piratas-fantasma, anémonas-do-mar gigantes ou baleias com o Pinóquio na barriga, mas a tudo Jorge responde: “Podia ser pior.” No fim, até o negativo Alberto aprenderá a relativizar os problemas… Fábula > 44 págs. > €13,99
10. A Canção da Mudança, de Amanda Gorman (texto) e Loren Long (ilustração)
A jovem poetisa, que marcou a tomada de posse do Presidente Joe Biden, estende o ativismo em prol da igualdade e do poder das novas gerações, neste seu primeiro livro infantil. A autora-personagem circula por um bairro-mundo, criando uma “onda” amparada pela metáfora da orquestra. Crianças de todas as cores unem-se num manifesto, pueril mas direto: “Somos o mundo que se está a transformar,/ E sabemos que não vai demorar.” Editorial Presença > 40 págs. > €12,90
11. O Mundo Cá Dentro, de Deborah Underwood (texto) e Cindy Derby (ilustração)
Lírico e evocativo, este livro mágico é um hino à Natureza. “Dantes, nós éramos parte do mundo e o mundo era parte de nós. Nada havia a dividir-nos. Agora, até quando estamos lá fora… estamos cá dentro.” Dentro de um carro a avançar numa estrada afundada entre bosques, por exemplo… A Ariadne que nos conduz é uma menina de cabelos negros, casaco vermelho sem capuchinho, acompanhada por bichos – um gato, um cão, um peluche aqui, um caracol acolá, uma aranha na teia. Diz-nos ela que o “mundo canta”: tem chilreios, murmúrios; que a Natureza “dá-nos de comer: sol, chuva, sementes… é quanto basta para haver pão e frutos”. As roupas? Já foram campos de algodão. As cadeiras? Árvores do bosque. Podemos sentir “o mundo no peso do gato quentinho”. E envolvendo este canto de nós mesmos no mundo à nossa espera, há belíssimas ilustrações em aguarela e grafite, ou caules banhados em tinta, jogos de luz. Orfeu Mini > 48 págs. > €13,50
12. Dança Quando Chegares ao Fim, Richard Zimler (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração)
Há sensibilidade e bom senso, vitalidade e ética de vida, pinceladas a cores fortes neste livrinho celebratório. Através de rimas simples, Zimler dá estes “bons conselhos de amigos animais” que apelam a miúdos e a graúdos. Divertimo-nos com máximas como “Faz caretas ao espelho/ sugere o escaravelho”, e inspiramos fundo com “Questiona, questiona e sempre questiona/ relembra o macaco-mona”. Planeta Tangerina > 40 págs. > €12,50
13. Ana dos Cabelos Ruivos, de Mariah Marsden (texto) e Brenna Thummler (ilustração)
O encantador clássico escrito por Lucy Maud Montgomery, em 1908, ganha, nesta novela gráfica, as cores das magnólias e dos bosques canadianos. A heroína, essa mantêm as tranças e a imaginação transbordante: a órfã Anne Shirley é enviada por engano para Matthew e Marilla Cuthbert. Os irmãos, e a vila inteira, esperavam um rapaz, não a ruivinha de 11 anos dada à tagarelice e aos disparates … Fábula > 230 págs. > €18,79