O mais recente disco de estúdio dos GNR (Caixa Negra, de 2015) conseguiu, 34 anos depois da estreia com o single Portugal na CEE, revestir-se de novidade. Não tanto pela música e letras, mas antes pela atitude da banda: largaram as grandes editoras que os foram acompanhando ao longo do percurso e atiraram-se a uma edição independente, tentando ter um maior controlo sobre os seus passos.
Quando os encontrámos, em março de 2015, o tom era de alguma irritação e amargura pelas estratégias passadas das suas editoras – “habituadas a controlar”, como diz a canção. “Agora libertámo-nos das mesmas tretas de sempre, falsas promessas que nunca eram cumpridas” dizia-nos, rebelde, Tóli César Machado. Um exemplo: nenhuma editora tinha alguma vez apostado em lançar um DVD com a marca dos GNR. “E agora só se for com hologramas”, brincava Reininho.
O dia chegou, e ainda pré-hologramas. Um dos discos deste Os Primeiros 35 Anos // Ao Vivo é um DVD que junta imagens de concertos com 24 anos de distância (Ao Vivo Alvalade, em 1992, e no Campo Pequeno, em 2016). Camisinhas de folhos, tecidos transparentes e penteados à parte, as diferenças não são tão grandes como se poderia pensar. Rui Reininho continua a ser o pesadelo de quem gosta de cantarolar em coro com o vocalista durante os concertos: as letras dos GNR na sua voz são entidades orgânicas, sempre a mudar, a variarem ao sabor dos mais absurdos impulsos fonéticos…
In Vivo, de 1990, já era um marco na edição discográfica de concertos de pop rock em bom português. Vinte e sete anos depois, conseguem mostrar que continuam a ser relevantes, que haver pop assim em português é um luxo e que, citando José Mário Branco, estão muito mais vivos que mortos. Como diz Rui Reininho entre a interpretação de duas faixas do mais recente disco (Caixa Negra e Cadeira Elétrica): “E continuamos, que isto é só futuro.”
Em Os Primeiros 35 Anos // Ao Vivo, gravado no Campo Pequeno, em Lisboa, a 12 de novembro de 2016, ouvem-se três vozes convidadas pelos GNR: Rita Redshoes, Isabel Silvestre e Javier Andreu. Em + Vale Nunca, participou o Coro Juvenil dos Musicentro dos Salesianos de Lisboa.
Veja aqui o vídeo de Morte ao Sol