Júlio Resende e Júlio Machado Vaz, juntos, à volta da poesia
Houve um tempo (o da supremacia do vinil) em que eram frequentes as edições discográficas de poesia dita, com ou sem música. Hoje são mais raras, como esta Poesia Homónima, de Júlio Resende e Júlio Machado Vaz
“Abençoada terapia a de a voz certa num poema que nasceu para errar em cada um que o escuta”, escreve o pianista Júlio Resende a propósito deste seu disco Poesia Homónima, assinado a meias com o psiquiatra, e um dos mais mediáticos sexólogos nacionais, Júlio Machado Vaz. Mas o que é a “voz certa num poema”? Qualquer uma, talvez. A de Júlio Machado Vaz, serena e com uma subtil pronúncia do Norte, soa-nos familiar, conhecemo-la bem da rádio ou da televisão. E reconhecemo-la aqui nas palavras de poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. Diz o próprio em sua defesa: “Amar profundamente a Poesia não fez de mim um bom dizedor (…). A minha voz prende-lhes o voo”. Não é exato: estes versos (alguns mais gastos pelo uso, como os de Urgentemente e Adeus, de Eugénio de Andrade) voam mesmo por aqui, muito ajudados pelas asas do piano livre e rigoroso ao mesmo tempo de um inspirado Júlio Resende.