Woody Allen completou 80 anos em dezembro de 2015. Bob Dylan chegou aos 75 no passado dia 24 de maio. Que relação há entre estes dois factos? Nenhuma. Apenas sublinham que estes dois artistas americanos já viveram muito e vão bem lançados na chamada “terceira idade”. Acontece que tendo sido absolutamente marcantes na definição do cinema e música popular no século XX, continuam as suas carreiras a bom ritmo. E algo os aproxima. Um conhecimento profundo, vivido, respeitoso e descontraído ao mesmo tempo, da História da cultura americana; e, nestes últimos anos, uma espécie de piloto automático ligado. O que, em muitos casos, seria uma crítica dura a sublinhar a falta de imaginação, arrojo e criatividade, funciona no caso de Bob Dylan e de Woody Allen como uma espécie de simples constatação que em nada diminui os seus trabalhos mais recentes. Tudo isto a propósito de Fallen Angels, o novo disco de Bob Dylan, que parece uma continuação, sem qualquer quebra ou sobressalto, do seu registo anterior (Shadows in the Night, lançado em fevereiro de 2015, com versões de canções menos conhecidas do repertório de Frank Sinatra). Também aqui Dylan regressa a velhos temas do cancioneiro popular americano e só uma das faixas (Skylark) não fez parte da discografia de Sinatra. A produção é novamente assinada por Jack Frost (ou seja, o próprio Bob Dylan) e a sonoridade, com uma deliciosa e omnipresente pedal steel guitar, mantém-se igual à do disco anterior. Dylan começa a cantar (com a sua voz inconfundível, mas num registo mais límpido do que o que o celebrizou) e estas velhas canções renascem com o estatuto automático de clássicos. Em vários momentos, fazem-nos lembrar os primeiros discos de Tom Waits (antes de este ter, para sempre, enrouquecido). Qualquer uma das 12 faixas deste Fallen Angels ficaria a matar na banda sonora de um qualquer filme recente de Woody Allen…
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