Começaram, ainda o século XXI cheirava a novo, como mais uma banda de guitarras em riste e palavras afiadas. Na música dos Linda Martini (que se estrearam em disco com Olhos de Mongol, em 2006, depois de já tocarem juntos há algum tempo) ouviu-se sempre urgência e tensão. O tipo de coisas que costumam desaparecer ou amolecer com o tempo. Ao terceiro disco (Turbo Lento, de 2013) assinaram por uma grande editora (Universal) onde se mantiveram para o lançamento deste Sirumba. Também esse peso podia retirar alguma daquela energia original de miúdos que começam a escrever canções e a tocar juntos. Mas ouvem-se as nove canções do novo álbum e está tudo intacto: a tensão, a urgência, o entusiasmo. E, sobretudo, estão agora muito longe de serem “mais uma banda”. Os Linda Martini conseguiram inventar uma identidade que se reconhece ao fim de poucos segundos de guitarras sobrepostas ou na voz de André Henriques, que carrega heranças da música popular portuguesa para este universo de indie rock sem fronteiras (não foi por acaso que um sample do FMI, de José Mário Branco, foi parar ao primeiro disco da banda). As letras continuam a misturar um lirismo desprendido, livre (Unicórnio de Sta. Engrácia é o nome da segunda faixa) e realidade dura, com pontes sólidas para as vidas de quem os ouve (“Traz-me mais uma cerveja/ por aqui já se boceja/ a esperar pela retoma…”, cantam em Putos Bons; “O que interessa é agora”, ouve-se em Comer por Dois).
O que se ouve em Sirumba é um depurar de tudo o que faz a identidade do grupo. Pela primeira vez tiveram um processo de gravação com mais tempo e espaço (num estúdio, o HAUS, sem horas marcadas nem sessões à pressa). Não há grandes invenções aqui, mesmo se alguns pormenores podem surpreender (como a entrada épica duma secção de metais em Farda Limpa). É, simplesmente, uma espécie de “tomem lá nove canções novas dos Linda Martini”, com a grande vantagem de todas elas serem Linda Martini no seu melhor.
Sirumba, o novo disco, com nome de jogo infantil, levou os Linda Martini pela primeira vez a um palco dos grandes: o Coliseu de Lisboa. Prova superada
Veja o vídeo de Unicórnio de Sta. Engrácia